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Lise Kingo, a mulher que quer consertar o mundo em 15 anos

Ex-executiva está à frente de um programa global para combater a pobreza, a desigualdade e as mudanças climáticas, no esforço mais amplo já feito pela ONU para mitigar problemas mundiais

Por Diego Braga Norte Atualizado em 10 dez 2018, 10h21 - Publicado em 4 out 2015, 10h12
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  • “Corrupção é uma força disruptiva, destrói negócios e vai contra a sustentabilidade econômica”

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    Consertar o mundo não é uma tarefa fácil, mas a dinamarquesa Lise Kingo promete que vai ser esforçar. Ex-executiva da Novo Nordisk, multinacional da área de saúde com presença em mais de 70 países, ela saiu do setor privado para coordenar um ambicioso plano: implantar dez princípios globais para combater a pobreza, a desigualdade e as mudanças climáticas, no esforço mais abrangente já feito pela Organização das Nações Unidas (ONU) para mitigar os problemas mundiais.

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    O programa Pacto Global é o braço da ONU que atua em conjunto com empresas, instituições e governos e seus dez princípios fundamentais desdobram-se em dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), metas que serão implantadas e aperfeiçoadas entre 2016 e 2030. Entre os dezessete objetivos propostos estão: promoção da agricultura sustentável; da saúde e bem-estar; da igualdade de gênero; da energia limpa; da inovação e infraestrutura; do consumo e produção sustentáveis, entre outros. Para explicar os princípios e metas e falar como pretende implantá-los e ampliá-los nos próximos 15 anos, Lise Kingo falou com o site de VEJA. Confira abaixo.

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    O ONU está completando 70 anos em 2015. Temos motivos para comemorar? A ONU tem uma importância vital para desempenhar; é uma fonte matriz de princípios e ações que devem ser preservados. É a principal voz de uma comunidade global que nós precisamos mais do que nunca nesse momento da história que estamos vivendo. Estamos diante de muitos desafios e o fato de existir um lugar onde as nações podem se encontrar para debater esses problemas é fundamental. Eu penso que temos motivos para celebrar. A pobreza extrema foi diminuída pela metade em 2010, cinco anos antes da meta da ONU. Isso é evidentemente muito bom. Maior acesso das mulheres à educação, nos três níveis, também foi outra conquista. Os níveis de acesso à agua potável também melhoraram muito.

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    A senhora poderia explicar o projeto Pacto Global? Como ele nasceu? O Pacto Global foi forjado na gestão do secretário-geral da ONU Kofi Annan [1997 – 2007]. Ele acreditou numa ideia de impacto mundial, em juntar a ONU e o setor privado. Ele entendeu que na era da globalização, liberalização e privatização, as empresas teriam de promover a proteção ambiental e a sustentabilidade para poderem manter seus negócios. Annan percebeu que era um bom momento para dar uma face mais humana à globalização.

    Os dez princípios do Pacto Global são ambiciosos. A senhora acredita que nós podemos cumpri-los em apenas 15 anos? Sim, os princípios são muito ambiciosos a amplos, evolvem temas complexos e serão sempre um desafio para todas as empresas. Não sei se vamos atingir os objetivos até 2030, mas é importante que cada vez mais empresas e países se esforcem e reforcem suas estratégias de negócios para abranger os dez princípios. Eles têm de apresentar um relatório anual mostrando os avanços para poderem continuar fazendo parte da rede Pacto Global.

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    Qual a ligação entre os dez princípios de os dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)? Os dez princípios são bases para as empresas seguirem. Os ODS são metas definidas pela ONU e por muitos parceiros em um gigantesco trabalho nos últimos três anos. Eles são um farol para guiar o crescimento das empresas e do mundo nos próximos 15 anos. Todas as dezessete metas pretendem criar um mundo melhor para as próximas gerações. São metas que fazem sentido para empresas e para o mercado, vão garantir a sobrevivência dos negócios. Todas as empresas podem fazer contribuições para elas mesmas e para a sociedade.

    Muitas pessoas entendem sustentabilidade como um conceito restrito ao meio ambiente, mas é algo que vai além, envolve também aspectos sociais e econômicos. A senhora poderia explicar esse entendimento atual de sustentabilidade? É importante as pessoas endentecerem que sustentabilidade é um conceito bem mais amplo. Os dez princípios do Pacto Global são um bom começo para esse novo entendimento. Meio ambiente, direitos humanos, leis trabalhistas, proteção à criança, práticas anticorrupção e economia são todas área cobertas por sustentabilidade. É um conceito social, ambiental e econômico. Eu penso que desenvolvimento sustentável é basicamente criar um mundo melhor, não apenas para as pessoas e empresas, mas também para o próprio planeta.

    O combate à corrupção é um dos princípios do Pacto Global. Aqui no Brasil, sabemos por experiência própria que a corrupção é péssima para o governo, para os negócios e especialmente para as pessoas. Como a corrupção atrapalha a sustentabilidade? Corrupção é uma força disruptiva, destrói negócios e vai contra a sustentabilidade econômica ao promover práticas desleais e condições desiguais. É algo que deve ser combatido sempre, por todas as nações e por todas as empresas.

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    O pacto global defende que crescimento econômico e sustentabilidade não são conceitos antagônicos. Como as empresas e as pessoas podem equilibrar crescimento e sustentabilidade? Promover crescimento e sustentabilidade é garantir que teremos acesso aos recursos naturais no futuro. A inovação e as novas tecnologias são fundamentais para responder essas questões. Novas tecnologias para produção de energia, novas parcerias, novos modelos de negócios. É importante que as grandes empresas, que possuem negócios e grandes cadeias de fornecimento espalhadas pelo mundo, mostrem que estão preocupadas com a sustentabilidade, que elas trabalham para isso. É fundamental para a sobrevivência das próprias empresas. Criar uma cultura empresarial que apoie a sustentabilidade vai garantir a sobrevivência não só das pessoas e do planeta, mas também das próprias empresas. Toda companhia quer ser vista como um ente que faz sérias contribuições para as pessoas e para o planeta, não apenas para elas mesmas.

    Inovações técnicas geralmente levam a práticas mais sustentáveis. Mas é preciso melhorar a educação para fomentar a inovação e qualificar as pessoas. O que o Pacto Global prevê para a educação? Temos uma plataforma para impulsionar a educação. É importante que todas as escolas, universidades ensinem e propaguem o desenvolvimento sustentável. Acreditamos que as próximas gerações serão muito mais intuitivas e compreensivas em relação à construção de um ambiente mais sustentável. Os jovens estão naturalmente muito mais integrados com a agenda sustentável, é algo que já faz parte de suas preocupações. A sustentabilidade está na base dos novos modelos de negócios, orienta a maneira de como os jovens pensam em estruturar suas empresas. É exatamente essa nova forma de pensamento que nós precisamos para o futuro.

    Por causa de seu tamanho, sua biodiversidade e outras características, o Brasil tem peso em questões globais envolvendo sustentabilidade. Como o país tem feito sua parte, é possível melhorar? O Brasil tem feito um ótimo trabalho e avançou em questões de sustentabilidade. Quando a rebe brasileira foi criada em 2001, ela rapidamente se tornou uma das mais poderosas redes do mundo. Todos os atores envolvidos ajudaram a criar uma rede forte. O Brasil tem projetos importantes em uso racional da água, promoção da agricultura sustentável, combate à corrupção, empoderamento das mulheres. A rede brasileira é um dos modelos e já abraçou alguns dos objetivos de desenvolvimento sustentável em seus modelos de negócio. Ser sustentável é uma bandeira relevante para as empresas brasileiras.

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