O governo da Rússia indicou nesta segunda-feira, 14, que uma possível desistência da Ucrânia em integrar a Otan, principal aliança militar ocidental, seria uma contribuição significativa para aliviar preocupações de segurança colocadas por Moscou.
“Seria um passo que contribuiria significativamente a formular uma resposta mais substancial às preocupações russas”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, em entrevista coletiva diária.
O Kremlin é contra a possível adesão de Kiev à aliança militar da Otan e vem alertando que uma confirmação terá consequências graves. Segundo o presidente russo, Vladimir Putin, uma eventual adesão do país vizinho à Otan é uma ameaça não apenas à Rússia, “mas também a todos os países do mundo”. De acordo com ele, uma Ucrânia próxima ao Ocidente pode ocasionar uma guerra para recuperar a Crimeia – território anexado pelo governo russo em 2014 –, levando a um conflito armado.
A Aliança, por sua vez, afirma que “a relação com a Ucrânia será decidida pelos 30 aliados e pela própria Ucrânia, mais ninguém” e acusa a Rússia de enviar tanques, artilharia e soldados à fronteira para preparar um ataque.
A fala do representante russo foi feita em reação à declaração do embaixador da Ucrânia no Reino Unido, Vadym Prystaiko, de que Kiev poderia desistir do desejo de integrar a Otan para evitar um conflito militar com a Rússia. À BBC, o diplomata indicou que o governo ucraniano seria “flexível” sobre o objetivo de integrar a aliança militar, o que é considerado uma ameaça para o governo russo.
Nesta segunda-feira, Peskov destacou que Kiev pediu que o embaixador explicasse as declarações, por isso “é pouco provável que se possa considerar como um fato consumado”. Após a fala de Prystaiko, a Presidência ucraniana destacou que a via euroatlântica para que o país se torne membro da Otan está consagrada na Constituição nacional e é prioridade “incondicional.
Após a repercussão negativa em seu país, Prystaiko afirmou nesta segunda-feira que a Ucrânia está “pronta para muitas concessões”, mas acrescentou que essas concessões “não têm nada a ver com a Otan”. Pouco depois, o porta-voz da Chancelaria ucraniana, Oleg Nikolenko, disse que as palavras usadas pelo embaixador “são ruins” e “não há decisões que podem ser tomadas ao contrário”.
As preocupações do Ocidente se dão em meio à consolidação de forças russas perto da fronteira com a Ucrânia. De acordo com o Ministério da Defesa ucraniano, há, atualmente, mais de 127.000 soldados russos posicionados perto de seus limites. A Rússia cercou o norte do país vizinho, onde a fronteira é mais desguarnecida, posicionando seu Exército como uma ferradura, cercando a região por três lados, em territórios de Belarus, de quem é aliada.
Além da presença, Moscou deu início na última quinta-feira a dez dias de exercícios conjuntos com o Exército de Belarus, transferindo cerca de 30.000 soldados, dois batalhões de sistemas de mísseis terra-ar e diversos caças para os arredores de Minsk. Os treinamentos, no entanto, estão sendo vistos pelos Estados Unidos e pela Otan como pretexto para Moscou aumentar ainda mais o número de tropas ao longo da divisa com território ucraniano. A capital ucraniana, Kiev, fica a cerca de 200 quilômetros da fronteira com Belarus.