Jornal venezuelano traz espaços em branco após sofrer censura
O governo venezuelano proibiu o diário de publicar imagens violentas
O jornal venezuelano El Nacional trouxe, nesta quarta-feira, três espaços em branco com a palavra “censurado”. Trata-se de um protesto contra a medida do governo, anunciada na véspera, de proibir a divulgação de imagens violentas. A decisão do presidente Hugo Chávez foi tomada após o diário publicar uma imagem de uma pilha de cadáveres no necrotério de Caracas para ilustrar uma reportagem sobre a crescente criminalidade no país.
Em um dos espaços em branco, lê-se: “Se aqui houvesse uma foto, vocês veriam um pai chorando por um filho que morreu”. Em Caracas, há cerca de 50 mortes violentas a cada fim de semana e, em todo o país, os assassinatos passaram de 16.000 em 2009, segundo cifras extraoficiais. O governo Chávez não divulga números sobre a violência na Venezuela há anos. Portanto, é a imprensa que apresenta todas as semanas estatísticas baseando-se na quantidade de corpos que chegam aos necrotérios.
Chávez, que passa por uma crise interna e sofre uma queda de popularidade, acusa os meios de comunicação de “manipulação politiqueira e pornográfica do tema da violência e da criminalidade”. Além disso, se justifica dizendo que “o problema da segurança é um assunto mundial”. O governo chamou a fotografia de uma pilha de cadáveres no necrotério de Caracas de “pornográfica” e decidiu que a imprensa escrita “deve abster-se de publicar imagens violentas, sangrentas, grotescas, que de uma forma ou de outra prejudiquem a integridade psíquica e moral das crianças”.
A proibição será aplicada por um mês, exatamente o período que falta para as eleições legislativas do país, nas quais o governo aspira manter pelo menos dois terços das cadeiras no Congresso.
Censura – Não é a primeira vez que Chávez passa por cima da liberdade de imprensa. Em 2007, a popular emissora de televisão RCTV saiu do ar porque o governo não renovou sua concessão. Há um ano, 30 emissoras de rádios foram fechadas. Da mesma forma, a justiça iniciou recursos administrativos contra o canal de notícias Globovisión, que Chávez chama de “terrorista midiático”. O caudilho perseguiu seus donos e anunciou que controlará 48,5% das ações do canal.