O jornal Financial Times publicou, nesta segunda-feira, um artigo criticando os últimos movimentos do presidente Lula e da diplomacia de seu governo. A publicação ressalta a importância que o Brasil ganhou após passar pela crise econômica mundial sem grandes sobressaltos. Importância ilustrada também pela visita dos líderes chinês, russo, indiano e sul-africano para as conferências do BRIC e IBAS, apenas na semana passada. Mas, o jornal critica o fato de Lula ter abraçado Hillary Clinton em março e, em seguida, ter encontrado o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad � gesto que será repetido em maio, lembra o jornal.
O Financial Times menciona o que chamou de gafes recentes do presidente � como dizer, em Israel, que “está infectado pelo vírus da paz” � e alerta que a política “do arco-íris” está chegando ao limite. O texto diz que esta postura pode até colocar em risco a possibilidade de o Brasil conquistar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Atualmente, o país ocupa uma vaga rotativa na instituição.
Na lista de “erros na política de Lula”, que podem ter arranhado a imagem dele no exterior, o Financial Times cita a reação do presidente à morte do ativista político cubano Orlando Zapata, a condenação do acordo entre Estados Unidos e Colômbia para estabelecer novas bases militares no país sul-americano e a atitude do governo brasileiro frente à eleição presidencial iraniana, marcada por suspeitas de fraudes.
“No ano passado, o Sr. Lula parabenizou o Sr. Ahmadinejad pela contestada vitória. Depois de comparar os manifestantes a jogadores em uma partida de futebol, ele convidou o Sr. Ahmadinejad para uma visita ao Brasil. Foi parte do papel que Brasília – que apóia o direito do Irã ter acesso ao poder nuclear para fins pacíficos – adotou como um mensageiro da paz para toda a humanidade”, diz a reportagem.
O texto diz que, para os críticos, a política externa do Brasil tem sido narcisista e ingênua. Afirma que as gafes têm custado pouco ao país, até agora. Mas, que ainda assim, a sensação é de que o Brasil deverá tomar decisões mais duras se quiser se sentar à principal mesa de negociação (a do Conselho de Segurança da ONU).
Irã
Para o ex-embaixador brasileiro em Washington, Rubens Barbosa, o presidente brasileiro tem sido cauteloso ao dizer que só apóia o uso pacífico de urânio enriquecido pelo Irã e nunca para a fabricação de armas nucleares. Mas, o diplomata diz que não se sabe porque Lula está se desgastando � especialmente dentro do país, inclusive com a comunidade israelense � para defendera causa da República Islâmica. “A questão é saber qual é o interesse brasileiro em participar disso. Lula não está se comprometendo, mas está se desgastando”, afirma.
Ele acredita que a postura do governo de defender o Irã pode gerar dúvidas sobre os interesses do Brasil.
“O programa nuclear brasileiro nunca levantou suspeitas. Se avançarmos o sinal, vai começar a haver questionamentos sobre a intenção do país”, completa.
O ex-embaixador, porém , não acredita que a imagem do Brasil tenha sido arranhada no exterior, como destaca o Financial Times. Ao contrário disso, ele acha que os encontros do BRIC e da IBAS, na semana passada, em Brasília, marcaram uma semana bem sucedida para a diplomacia nacional.