Na véspera do início oficial dos Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, na Rússia, cuja cerimônia de abertura ocorre na tarde desta sexta-feria (horário de Brasília), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deu uma amostra de como funciona o jogo diplomático com o colega russo, Vladimir Putin – alvo de crescente pressão internacional por causa das leis russas consideradas discriminatórias contra os homossexuais.
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Em entrevista à emissora americana NBC, cujos primeiros trechos foram exibidos quinta-feira e que será transmitida na íntegra nesta sexta, Obama negou ter uma relação fria com o presidente russo ao responder uma pergunta que claramente buscava fazer uma brincadeira com os Jogos de Inverno e chegou até mesmo a elogiá-lo. Segundo o americano, Putin mostra uma imagem de “durão” por causa de seu “estilo político”, mas na realidade é bastante bem humorado nos encontros entre os dois.
“Não diria que (a relação) é fria. A verdade é que em nossas reuniões existe muita troca, há uma surpreendente quantidade de humor, e muito a dar e receber”, declarou Obama.”Ele tem um estilo político no qual gosta de parecer um pouco aborrecido durante as reuniões conjuntas. Acho que é daí que tiram essas conclusões”, disse o presidente americano. “Ele quer parecer durão”.
Obama ainda fez questão de ressaltar a cooperação entre os dois governos para a segurança da Olimpíada – EUA e Rússia vem trabalhando em conjunto para evitar qualquer incidente nas competições, alvo de ameaças de grupos terroristas.
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Mas depois do elogio, o presidente dos EUA não perdeu a oportunidade de criticar Putin quanto à situação dos gays na Rússia, em evidência desde a aprovação de leis contra a “propaganda homossexual” e a adoção de crianças por parte de casais do mesmo sexo, o que, segundo denunciam os ativistas do movimento gay, restringe os direitos fundamentais.
Questionado sobre a decisão do Comitê Olímpico americano de escolher ex-atletas gays como seus delegados nos Jogos de Sochi, Obama disse se tratar de uma mensagem direta sobre a discordância dos EUA em relação às limitações impostas pela legislação russa. “Não resta dúvida de que quisemos deixar muito claro que não toleramos discriminação em nada, incluindo discriminação baseada na orientação sexual”, afirmou.
Carta aberta – Em meio às queixas sobre a situação dos homossexuais na Rússia, nesta quinta-feira o jornal londrino The Guardian publicou uma carta aberta assinada por mais de 200 escritores, entre eles o alemão Günter Grass, o indo-britânico Salman Rushdie e o americano Jonathan Franzen, denunciando a legislação anti-gay e a difamação como um atentado contra a liberdade de expressão.
Outros autores famosos que também assinaram a carta aberta são: os prêmios Nobel de Literatura Wole Soyinka, Elfriede Jelinek e Orhan Pamuk, Carol Ann Duffy, Edward Albee, Julian Barnes, Ian McEwan, Alejandro Sánchez-Aizocorbe, Carme Arenas e Charlotte Gray.
No ano passado, a Duma (Câmara dos Deputados) da Rússia aprovou uma lei que proíbe a “propaganda homossexual” entre menores de idade, o que também provocou protestos das organizações humanitárias. Além disso, foram restabelecidas leis sobre difamação presentes no código penal. Organizações de defesa dos direitos humanos convocaram o boicote aos Jogos de Sochi por causa das leis. Em contrapartida, Putin convidou todos os atletas e visitantes a irem á Rússia sem medo de serem discriminados.
(Com agência EFE)