Previa-se que o movimento nacionalista que impulsionou a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) há cinco anos afetaria também os demais países do bloco. Diversas iniciativas surgiram em toda a Europa, mas nenhuma foi tão longe como a britânica. Porém, na Itália, a questão europeia dominou a política nos últimos anos, com eurocéticos culpando a UE pela estagnação econômica crônica do país e pelo fardo de lidar com a grande onda de imigração vinda da África.
Aproveitando-se do movimento que já ronda o país há alguns anos, o popular senador Gianluigi Paragone, ex-integrante do Movimento Cinco Estrelas, anunciou que lançará ainda nesta semana um novo partido que tem como principal missão retirar seu país do bloco. Menos sonora do que o apelido recebido pelo movimento britânico, mas capaz de traçar uma conexão instantânea na mente de qualquer europeu, a legenda foi nomeada Italexit.
Paragone é ex-apresentador de televisão e foi eleito ao cargo em 2018. Ele foi eleito pelo M5, o partido que atualmente lidera o governo por meio de uma aliança com o Partido Democrático, mas deixou a legenda logo após a formação da coligação com os democratas.
O senador se encontrou nesta terça-feira, 21, com o fundador do Partido do Brexit, e um dos principais entusiastas da saída britânica do bloco europeu, Nigel Farage. “Não podemos mais ser chantageados por países que ofendem o grande prestígio da Itália”, disse Paragone após a reunião, acrescentando que apenas um “estado realmente soberano”, como o Reino Unido, pode lidar com a crise econômica provocada pela pandemia.
O partido Liga, do senador de extrema direita Matteo Salvini, comandou por meses a retórica anti-UE na Itália, mas recentemente suavizou suas críticas contra Bruxelas, em uma tentativa de ganhar mais prestígio.
O momento escolhido por Paragone para anunciar a criação do novo partido parece ter sido definido cuidadosamente, já que a UE publicou nesta terça seu plano de recuperação econômica pós-coronavírus. Os países do bloco levaram mais de 90 horas para negociar o acordo e tiveram que fazer muitas concessões para agradar a todos os membros.
“Os outros querem mudar a Europa, mas nós queremos sair”, disse Paragone após o anúncio sobre o acordo da UE. Após a concretização do pacto, o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte disse que 28% do fundo seria destinado para a Itália, em uma mistura entre doações e empréstimos.
A Itália foi um dos países mais atingidos pelo coronavírus na Europa, tendo liderado a lista de nações com mais mortes e casos por semanas em março. Hoje o país tem um número baixo de casos diários e vive a reabertura econômica após semanas de lockdown.
(Com Reuters)