As primeiras pesquisas de boca de urna indicam que os eleitores na Irlanda votaram pela legalização do aborto no referendo desta sexta-feira (25). Com forte influência da Igreja Católica, o país tem as leis mais restritivas da Europa para a prática.
Segundo pesquisa da Ipsos/MRBI, divulgada pelo jornal The Irish Times, 68% dos irlandeses querem a mudança na legislação que veta a prática, enquanto 32% votaram pela manutenção da proibição.
Os irlandeses deveriam decidir sobre a revogação da oitava emenda constitucional, que proíbe o aborto em todos os casos, exceto quando há perigo para a vida da mãe. Interromper uma gravidez no país atualmente pode resultar em 14 anos de prisão, mesmo em caso de estupro ou incesto.
Os eleitores formaram longas filas nas zonas eleitorais nesta sexta para votar no referendo. Os colégios eleitorais abriram às 7h (3h em Brasília) e fecharam às 22h (18h em Brasília). O resultado oficial só deve ser conhecido no sábado (26) à noite.
Caso o “sim” vença de fato, o governo de Leo Varadkar, primeiro-ministro irlandês, já tem uma lista de mudança nas leis, que permitiria abortar livremente durante as doze primeiras semanas de gravidez e, em algumas circunstâncias, nos primeiros seis meses.
Varadkar, que foi votou “sim” em sua seção eleitoral, defende a liberalização e convocou a população a votar, classificando o referendo de “oportunidade única em uma geração”.
Mais de 3 milhões de pessoas estavam registradas para participar do referendo. De acordo com a emissora RTE, o comparecimento na votação pode superar o número de votantes no plebiscito que apoiou o casamento gay em 2015.
Os partidários favoráveis ao “sim” sustentam que a lei não funciona, porque todos os anos milhares de gestantes da Irlanda viajam ao exterior para abortar. Os grupos contrários e a Igreja Católica, por sua vez, entendem que a reforma abrirá a porta aos chamados “aborto sob demanda” e defendem o “direito constitucional à vida” de qualquer ser.
Em 2013, decidiu-se que as mulheres, cuja vida corria risco com a gravidez, poderiam interrompê-la, após o escândalo causado pela morte de Savita Halappanavar, que morreu por não ter tido um pedido de aborto negado após os médicos não identificarem a tempo o risco que a gravidez representava.
A ideia do novo referendo ganhou impulso com o caso de Amanda Mellet, que teve de viajar para o Reino Unido para abortar, depois de detectar que o feto sofria uma anomalia mortal e de levar seu caso à ONU.