O Ministério das Relações Exteriores do Irã confirmou nesta segunda-feira, 1º, que o estoque de urânio enriquecido do país ultrapassou o limite previsto no acordo nuclear de 2015, assinado por grandes potências do mundo ocidental.
A postura do governo iraniano é vista como o primeiro grande rompimento do pacto desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a saída americana do acordo, em maio do ano passado. O documento limita o enriquecimento de urânio de Teerã a 202,8 quilos do material atômico, em troca da retirada de sanções econômicas internacionais.
Ao confirmar a informação à agência estatal IRNA, o chanceler Javad Zarif, um dos principais autores da proposta, exigiu respeito de seus rivais diplomáticos. “O Irã nunca cederá à pressão dos Estados Unidos. Se quiserem conversar com o Irã, devem mostrar respeito. Nunca ameace um iraniano, o Irã sempre resistiu à pressão e respondeu com respeito quando respeitado.”
Já seu porta-voz, Abbas Mousavi, garantiu que as última decisões do país são reversíveis. “Nós dissemos aos europeus que se medidas mais práticas, maduras e completas fossem tomadas, a fidalidade do Irã aos compromissos pode ser retomada. Caso contrário, continuaremos (com o enriquecimento)”, declarou Mousavi.
A situação entre as duas nações piorou nas últimas semanas, depois de ataques contra petroleiros e drones americanos no estreito de Ormuz, no Oriente Médio que, segundo o governo americano, seriam de autoria iraniana.
Apesar da retirada dos Estados Unidos, países da Europa como França e Alemanha continuavam apoiando o acordo nuclear, sob o pretexto de que o governo iraniano cumpria as restrições impostas pelo documento.
Mas no último mês de maio o Irã anunciou que iria quadriplicar sua produção de urânio enriquecido, em retaliação às sanções econômicas dos Estados Unidos e à falta de medidas mais inclusivas dos países europeus.
Na sexta-feira 28, durante reuniões em Viena, os demais signatários do acordo fizeram um último esforço para tentar convencer o Irã a desistir de seus planos de ultrapassar os limites nucleares. O país respondeu que os europeus ofereceram muito pouco em termos de assistência comercial para persuadi-lo.
Jornada nuclear
O baixo enriquecimento de urânio, a um nível de 3,6% de material atômico, é apenas o primeiro passo em um processo que eventualmente pode permitir ao Irã acumular material para construir uma ogiva nuclear.
Para alimentar uma usina, basta elevar a quantidade do enriquecimento de urânio do tipo U-235 de 0,7% para 3% mas para fazer uma bomba, a concentração tem de ser enorme: no mínimo 90% de U-235. O processo, de alta tecnologia, está sujeito a diversos problemas.
Em 2010, por exemplo, o vírus de computador Stuxnet (supostamente criado pelos EUA ou por Israel) contaminou as centrífugas do Irã e as fez girar rápido demais, até queimar, o que atrapalhou a produção de urânio e atrasou o programa nuclear do país.
Na última quarta-feira 26, a AIEA verificou que o Irã tinha cerca de 200 quilos de urânio de baixo enriquecimento, um pouco abaixo do limite do acordo, disseram três diplomatas que acompanham o trabalho da agência. Nesta segunda-feira, a AIEA não estava disponível para comentar o assunto.
O acordo entre o Irã e seis potências mundiais suspendeu a maioria das sanções internacionais contra a nação do Oriente Médio em troca de restrições ao trabalho nuclear para produção de uma possível bomba atômica. O país afirma que seu programa nuclear tem apenas fins pacíficos, incluindo a geração de energia.
(Com Reuters)