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Ícone gótico, Notre-Dame soma mais de 800 anos de arquitetura

Catedral inspirou obra clássica de Victor Hugo, ‘O Corcunda de Notre-Dame’

Por Redação
15 abr 2019, 21h13

Quando um incêndio atingiu a catedral de Notre-Dame em Paris nesta segunda-feira, 15, pessoas de todo o mundo – religiosas ou não – lamentaram a possível perda de um dos maiores símbolos da arquitetura gótica mundial, lar de esculturas e vitrais que testemunharam mais de oito séculos de História.

Construção

Um dos principais cartões-postais de Paris, a catedral de Notre-Dame foi construída ao longo de quase duzentos anos, entre 1163 e 1345, na Île de la Citè – uma ilhota no centro da cidade, cercada pelas águas do Sena.  O local onde foi erguida era antes ocupado pela Basílica de Saint Étienne, construída no século IV a apenas 40 metros dali, mas o rei Louis VII desejava um monumento capaz de refletir a importância política, econômica e cultural da capital francesa e demoliu o antigo templo para inaugurar a “nossa dama”: uma obra de arquitetura gótica, verticalizada e imponente, idealizada pelo bispo Maurice de Sully e dedicada à Virgem Maria.

A Notre-Dame foi uma das primeiras catedrais no mundo a utilizar arcos externos de sustentação, introduzidas como forma de suportar o peso de uma construção tão alta (as torres frontais têm 69 metros cada e foram as estruturas mais altas de Paris até a construção da torre Eiffel em 1889). Como resultado, as paredes puderam ficar livres para receber vitrais mais amplos (como a famosa rosácea) e trazer mais iluminação à área interna, além de permitir um espaço maior para as ilustrações bíblicas.

Além dos vitrais, a catedral também é conhecida por suas gárgulas e quimeras, figuras grotescas espalhadas por toda a área superior com a função de escoar a água, sem prejudicar a estrutura principal. Inspiradas em figuras míticas híbridas de diferentes animais, que se alimentariam de carne humana, essas criaturas tinham também o objetivo de mostrar aos fiéis os riscos de não se seguir os ensinamentos da Igreja.

A catedral passou por um período de decadência no século XV e chegou perto de ser demolida, até ser restaurada a pedido de Napoleão Bonaparte, coroado imperador dentro dela em 1804. Outra figura importante a fazer parte da história do templo foi Joana D’Arc, que foi beatificada em 1909 na Notre Dame pelo papa Pio X.

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Sinos

Começando pelo telhado, o fogo ameaça um dos mais importantes patrimônios da catedral francesa, a sua família de sinos. A família de instrumentos começou a ser instalada em 1621. O primeiro deles a funcionar, Bourdon Emmanuel (cada uma das peças recebeu um nome) tocou apenas 84 vezes em seus mais de três séculos de vida, tendo sempre sido reservado para momentos históricos da França, como o fim da Primeira Guerra Mundial ou na libertação de Paris em 1944.

Muitas peças cederam seu material – o cobre – para o exército francês durantes as guerras, sendo derretidos e transformados em canhões. Sobreviveram até o incêndio Angelique-Françoise, Antoinette-Charlotte, Hyacinthe-Jeanne, Denise-David, que ocupavam a chamada torre Norte.

La Flèche

Torre é consumida pelas chamas durante incêndio na Catedral de Notre Dame, em Paris – 15/04/2019 (Geoffroy Van Der Hasselt/AFP)

A torre mais estreita e pontiaguda da catedral que cedeu ao incêndio na tarde desta segunda-feira era conhecida como La Flèche e localizada sobre o altar, mas não era a versão original. Uma primeira Flèche foi construída na primeira metade do século XIII e não resistiu a cinco séculos de ventos sobre sua estrutura. Em 1786, ela foi removida e só voltou a integrar a obra no século seguinte, durante a restauração de Viollet-le-Duc. O arquiteto propôs uma versão mais resistente feita de carvalho e chumbo, que pesava 750 toneladas e se manteve erguida até hoje.

Vitrais

Outra marca da catedral parisiense são seus vitrais amplos e coloridos. Entre esses, as peças mais conhecidas são as três rosáceas – mosaicos circulares formados por “pétalas” de vidro adornado com imagens que narram a vida de Jesus Cristo, santos e apóstolos. A menor delas, localizada na ala oeste, foi a primeira a ser construída e tem 9.6 metros de diâmetro. Ela foi incorporada em 1225, mas nenhum dos vitrais originais permaneceu até os dias de hoje, tendo sido substituídos no século XIX.

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Já a maior das rosáceas estampa a face sul da catedral e foi construída em torno de 1260, com 12.9 metros. Ela foi um presente do rei Luís IX à França e é composta por 94 medalhões, arranjados em quatro círculos concêntricos, cada um com um tema distinto. Essa obra de vidro foi danificada no século XVI, restaurada no XVIII e destruída novamente durante a Revolução Francesa, em 1830, quando um incêndio atingiu a residência do Arcebispo, vizinha à catedral. Em 1861, o arquiteto Eugène Viollet-le-Duc reconstruiu a peça, com algumas alterações.

Salvos no último segundo

Um conjunto de dezesseis estátuas de bronze localizadas nos telhados da Notre-Dame escaparam por pouco do fogo. Elas haviam sido removidas na sexta-feira 12 para serem restauradas, como parte de uma reforma que pode ter sido a origem do incêndio.

O Corcunda de Notre-Dame

Vitor Hugo homenageou o grupo de sinos no clássico O Corcunda de Notre-Dame. As torres de onde se ouvia a música eram o refúgio de Quasímodo, o protagonista de corpo deformado que se apaixona por uma cigana. O personagem, além de corcunda, se tornou surdo com os longos anos de convivência com as badaladas da catedral, que eram de sua responsabilidade.  

Cena de 'O Corcunda de Notre Dame', animação da Walt Disney de 1996

O romance histórico, de 1831, é considerado o principal registro das forças políticas que regiam aquela região da França do período. E é a mais importante obra de literatura dedicada à arquitetura de Notre-Dame e ganhou diversas adaptações para o cinema, incluindo uma animação da Disney em 1996.

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