O governo de Hong Kong seguiu o exemplo da China e acusou nesta terça-feira, 2, os Estados Unidos de praticar “dois pesos e duas medidas” na resposta aos protestos pela morte de George Floyd, homem negro que foi asfixiado por um policial branco quando estava imobilizado e desarmado, em comparação às manifestações que ocorreram no território asiático. As declarações foram uma resposta às ameaças do presidente americano Donald Trump de retaliar a nova lei de segurança nacional aprovada por Pequim.
“Vimos claramente nas últimas duas semanas o duplo padrão aplicado”, disse Carrie Lam, chefe do Executivo de Hong Kong, a repórteres locais. “Vocês sabem que existem tumultos nos Estados Unidos e vemos como os governos locais reagiram. E, então, em Hong Kong, quando temos tumultos similares, vemos a posição que eles (americanos) adotam”, criticou.
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Clique e AssineUm dia antes, Zhao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, fez reclamação semelhante. “Por que os EUA glorificam as ditas forças pró-independência de Hong Kong como heroicas, mas chamam manifestantes desapontados com o racismo no seu país de arruaceiros?” No último dia 29, a Casa Branca retirou o status especial de comércio com Hong Kong— responsável por 65% dos investimentos chineses —, uma vez que não reconhece mais a autonomia do território em relação à Pequim.
Por mais de seis meses, Hong Kong foi inundada por protestos contra a proposta de lei de extradição que abria margem, segundo os manifestantes, para perseguição política por parte de Pequim. A maioria dos atos nas ruas terminou em violência, com acusações de brutalidade policial. Os Estados Unidos, assim como outros países Ocidentais, criticaram a gestão da crise no território e acusaram a China de atentar contra a autonomia da região.
Com a pandemia de Covid-19, contudo, os protestos arrefeceram, enquanto a polícia aproveitava a calmaria e se preparava para a nova onda de manifestações. Pequim paralelamente trabalhava para aprovar uma nova lei de segurança nacional para “impedir, deter e reprimir qualquer ação que ameace de maneira grave a segurança nacional, como o separatismo, a subversão, a preparação, ou a execução de atividades terroristas, assim como as atividades de forças estrangeiras que constituem uma interferência nos assuntos de Hong Kong”.
A proposta foi primeiramente engavetada, mas durante a reunião anual do Parlamento chinês em Pequim em maio deste ano, uma nova legislação de segurança nacional foi aprovada. A medida abre a possibilidade do governo central passar por cima da autonomia de Hong Kong. Na prática, o governo chinês antecipa em 27 anos a retomada da influência no cotidiano de Hong Kong – o território era um protetorado do Reino Unido até 1997, quando os britânicos saíram da região e assinaram um acordo com Pequim no qual a China continental deixaria a região ter autonomia por meio século, até 2047.
A medida, portanto, se sobrepõe à Lei Fundamental de Hong Kong, a miniconstituição do território que previa a aprovação de uma lei semelhante, mas que sempre enfrentava resistência da população. Segundo o governo de Hong Kong, no entanto, a medida é legítima. “Nada pode justificar um governo, uma economia que impõe sanções a Hong Kong em resposta a um processo do governo central totalmente legítimo, das autoridades centrais que tomaram a decisão de promulgar leis para que Hong Kong proteja melhor a segurança nacional.”
Como forma de represália a nova lei e à resposta chinesa à pandemia, o presidente americano, Donald Trump não só retirou os privilégios comerciais que o país tinha com Hong Kong como proibiu a entrada de chineses que oferecessem risco aos Estados Unidos.
Desde que Trump assumiu a Presidência dos Estados Unidos, a tensão com a China vem aumentando além da guerra comercial e da taxação de exportações chinesas, como o aço. Em 2020, com a pandemia de Covid-19, os americanos apostaram na retórica de que Pequim e a Organização Mundial da Saúde (OMS) negligenciaram ou acobertaram a gravidade do vírus em seu período inicial. Como represália, o presidente americano retirou seu país da OMS.
Protestos nos Estados Unidos
George Floyd foi asfixiado e morto pela polícia no dia 25 de maio em Minneapolis, no estado de Minnesota, após ter sido acusado de tentar comprar cigarros com uma nota de 20 dólares falsa. Sua morte culminou em manifestações por todo o país, e muitas delas acabaram em episódios de violência e repressão policial.
A violência no país sofreu uma escalada. Com protestos registrados em Nova York, Detroit, Los Angeles e até mesmo em frente à Casa Branca. Trump ameaçou os manifestantes, sejam pacíficos ou não, de usar o Exército para pôr ordem nas ruas.
Na segunda-feira, o presidente decidiu ir até uma igreja na capital com o objetivo de tirar uma foto e pediu para a policia abrir caminho entre os manifestantes pacíficos que foram recebidos com bombas de gás, cassetetes e spray de pimenta. Nas redes sociais, há relatos de pessoas feridas por policiais e jornalistas que foram detidos ou agredidos pelo Estado.