Ramón Abarca.
Londres, 10 jul (EFE).- O presidente francês, o socialista François Hollande, e o primeiro-ministro do Reino Unido, o conservador David Cameron, encontraram-se nesta terça-feira em Londres e defenderam o ‘interesse comum’ de seus países, apesar de admitirem profundas divergências sobre a União Europeia e a regulação bancária.
Hollande foi recebido com honras em Londres pela Guarda Real e posteriormente se encontrou com Elizabeth II no castelo de Windsor. O presidente francês e Cameron almoçaram em Downing Street. O encontro dos dois ocorre em plena crise europeia e num momento de tensão com o Reino Unido, que critica a moeda única europeia.
Em entrevista coletiva conjunta, ambos os líderes reconheceram suas diferenças ideológicas sobre a União Europeia (UE), mas afirmaram que trabalharão para construir uma ‘forte relação’ e concordaram em não permitir que o orçamento comunitário cresça de maneira ‘inaceitável’.
‘Estamos tentando construir uma relação boa e estável. Somos políticos práticos e razoáveis’, assegurou Cameron, que acrescentou que ambos querem ‘demonstrar sua força’ em assuntos como a Síria e o Irã.
Embora tenham se encontrado por várias vezes em cúpulas internacionais, a reunião de hoje, que durou mais de 90 minutos, foi a primeira realizada em Londres desde que Hollande foi eleito presidente francês em maio.
A relação dos dois ficou tensa quando Cameron se recusou a recebê-lo durante a campanha eleitoral francesa e apoiou seu rival, o conservador Nicolas Sarkozy.
Ao ser perguntado sobre este fato, o presidente francês relativizou o ocorrido e falou em ‘dinâmicas próprias das campanhas eleitorais’.
Em outro famoso desencontro, David Cameron chegou a dizer em maio, durante a reunião do G20 no México, que colocaria um tapete vermelho para receber as empresas francesas que fossem para o Reino Unido fugindo dos impostos para fortunas estabelecido por Hollande.
O presidente francês também minimizou a questão e disse apenas que se divertida com o ‘humor inglês’. Além de abordar assuntos de política internacional como a Síria, Líbia e o Irã, políticas de cooperação no setor de defesa e energia nuclear, os dois líderes conversaram amplamente sobre a crise da eurozona.
Cameron e Hollande concordaram sobre a necessidade do euro ser uma moeda ‘forte e estável’, e que os acordos do Conselho Europeu realizado no final de junho sejam aplicados com rapidez.
Além disso, ambos afirmaram que a proposta da Comissão Europeia de aumentar o orçamento de Bruxelas em 14 bilhões de euros ao ano é ‘inaceitável’.
‘Sempre haverá áreas onde não estamos de acordo, mas encontramos um amplo terreno em comum, não somente em políticas europeias, mas também em como desenvolver estas políticas para o Reino Unido e a França no futuro’, disse Cameron.
Por sua parte, Hollande frisou que tanto ele como Cameron compartilham o objetivo comum de devolver aos seus países o crescimento econômico, e que apesar de manterem posturas diferentes em relação à Europa, ambos os países respeitam a posição do outro.
Neste sentido, o presidente francês lembrou que o Reino Unido não quer fazer parte da eurozona, enquanto a França aposta na integração e na solidariedade, mas explicou que nem os britânicos tentam impedir a atuação dos países da zona do euro, nem os franceses querem obrigar ninguém a se unir ao bloco.
‘Por isso, deveríamos ver uma Europa com velocidades diferentes, nas quais cada um atua no seu próprio ritmo, respeitando os outros países, já que esse é o modo de construir uma relação forte e de confiança’, apontou Hollande.
Apesar do espírito de cooperação que reinou entre os dois líderes, um dos assuntos de forte divergência continuou sendo a regulação do sistema financeiro.
Após ser perguntado pelo escândalo da manipulação do Libor- a taxa de juros interbancária fixado em Londres- Hollande insistiu na necessidade de ‘controlar’ e ‘regular’ o setor financeiro.
Já Cameron, quem mantém uma forte postura em defesa do sistema financeiro londrino e contra a regulação, disse que sua responsabilidade é que o Reino Unido seja o país ‘mais competitivo’ e ‘o melhor lugar para os negócios’. EFE