Às vésperas de completar seis meses, a explosiva guerra em Gaza segue escalando em brutalidade e no tom das críticas vindas de toda parte ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que ao esticar a batalha contra os terroristas do Hamas tenta se manter fincado no poder. Nos últimos dias, porém, o cerco em torno da controversa figura no comando de Israel por quase duas décadas anda se fechando com intensidade inédita, descontentamento que se desdobra em protestos em série pelo país. Desde sábado, 30 de março, um contingente como nunca antes vem tomando as ruas de Tel Aviv e Jerusalém (na foto acima), onde se agitam bandeiras de “impeachment agora” em frente ao Parlamento, exigindo a saída de cena de Bibi. Sua situação só fez deteriorar depois do escandaloso ataque que acabou por matar sete funcionários de uma ONG espanhola que atuava na distribuição de alimentos no enclave onde pelo menos 2 milhões de pessoas passam fome, uma cruel face humana do conflito. O governo reconheceu que errou ao atingir o comboio, que havia inclusive acertado dia e hora da entrega da comida com as forças israelenses. E logo o equívoco fatal ecoou mundo afora, elevando a temperatura no discurso de aliados históricos, como os Estados Unidos. “Exigimos uma investigação rápida e imparcial do ocorrido”, disse o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken. A semana que parecia sem fim teve direito ainda a disparos da nação sob a liderança de Netanyahu contra a embaixada do Irã na Síria, eliminando quadros de elite da Guarda Revolucionária e tornando incontornável a pergunta: será que a guerra cruzará fronteiras no Oriente Médio? Espera-se que, em nome dos milhares que penam em meio às bombas, a resposta seja não.
Publicado em VEJA de 5 de abril de 2024, edição nº 2887