“Temos que garantir que as investigações ocorram dentro da legalidade. Ainda falta identificar muita gente e peças-chave da sublevação, como franco-atiradores altamente treinados que atuaram do alto de edifícios”, afirmou ao vice-ministro das Relações Exteriores, Kintto Lucas
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Cercados por militares no Palácio de Governo, no centro de Quito, o presidente equatoriano Rafael Correa passou parte do domingo reunido com ministros e assessores tentando decidir sanções imediatas e as várias instâncias de investigação para punir os responsáveis pelo levante policial da última quinta-feira. O problema, no entanto, é que ninguém no governo sabe ao certo quem são os envolvidos e a extensão exata do envolvimento de policiais, militares e servidores dentro do governo nas ações que, segundo Correa, teriam como objetivo derrubá-lo.
Como boa parte do conflito foi transmitida ao vivo pela TV, há policiais e militares já identificados. Mas estes não são, nem de longe, os ‘peixes grandes’ que Rafael Correa pretende extirpar das instituições. “Temos que garantir que as investigações ocorram dentro da legalidade. Ainda falta identificar muita gente e peças-chave da sublevação, como franco-atiradores altamente treinados que atuaram do alto de edifícios”, afirmou ao site de VEJA o vice-ministro das Relações Exteriores, Kintto Lucas.
Correa chamou de “covardes e criminosos” os policiais que participaram do levante. E, mesmo ainda tentando identificá-los, afirma categoricamente que a revolta de setores da Polícia Nacional foi incitada por integrantes do Partido Sociedade Patriótica (SP) e pelo ex-presidente Lucio Gutiérrez, que passou a semana no Brasil, acompanhando um grupo de observadores internacionais interessados no sistema de urnas eletrônicas. Gutiérrez nega as acusações e chega a negar que o levante possa ser caracterizado como golpe.
Mesmo fora do grupo que, agora, começa a ser caçado internamente por ter participado de alguma forma do levante, o governo tem razões para suspeitar que ‘dorme com o inimigo’. As Forças Armadas, na quinta-feira da revolta dos policiais, demoraram a se apresentar para assegurar a segurança nas áreas conflagradas e a declarar publicamente a lealdade a Correa.
Na opinião do embaixador brasileiro no Equador, Fernando Simas Magalhães, as manifestações da Unasul, a União das Nações Sul-Americanas, podem ter forçado oficiais com intenções golpistas a recuar. “Em seis horas, a Unasul se mobilizou para uma reunião de avaliação da situação e rapidamente declarou apoio a Correa. Com isso, ficou claro que os líderes do cone Sul não viam com bons olhos a destituição de um presidente eleito democraticamente”, avaliou Magalhães.