A junta militar que derrubou o presidente do Níger e tomou controle do país acusou nesta quarta-feira, 9, a França de violar o espaço aéreo local como forma de provocar uma desestabilização nacional. Sem apresentar provas, o coronel Amadou Abdramane, porta-voz do governo provisório, alegou também que franceses teriam libertado “terroristas”, durante discurso televisionado nacionalmente.
Em julho, militares destituíram o presidente nigerense, Mohamed Bazoum, sob alegações de falta de segurança e de crise econômica no país, em meio a ataques crescentes do Estado Islâmico. A queda do governo seria sucedida, então, pela instauração de um novo governo militar, organizado pelo Conselho Nacional de Salvaguarda do País (CNSP).
“Os golpistas alegam falsamente que agiram para proteger a segurança do Níger. Eles alegam que nossa guerra contra os terroristas jihadistas está fracassando e que meu governo econômico e social, incluindo alianças com os Estados Unidos e a Europa, prejudicou nosso país. Na verdade, a situação de segurança no Níger melhorou dramaticamente”, disse Bazoum ao jornal americano The Washington Post, após o golpe.
+ Paris prepara retirada de franceses e europeus do Níger após golpe militar
Com a instabilidade política no território nigerense, o Ministério das Relações Exteriores da França anunciou, na semana passada, que iniciaria os processos de retirada de seus cidadãos e de outros europeus. A situação em Niamei, capital do Níger, seria fonte de preocupações, já que manifestantes realizaram intensos protestos em frente à embaixada francesa para contestar a influência pós-colonial na nação da África Ocidental, escalando os problemas diplomáticos.
Aderindo ao discurso antifrancês, o regime militar afirmou nesta quarta-feira que Paris teria “um verdadeiro plano para desestabilizar” o Níger. O comunicado do CNSP alega, ainda, que a “aeronave cortou voluntariamente todo o contato com o controle de tráfego aéreo”, entre 6h39 e 11h15, no horário local.
A declaração, no entanto, foi veementemente negada por um funcionário do governo de Emmanuel Macron, presidente da França, em depoimento à agência de notícias AFP. Segundo a fonte, o voo “foi autorizado e coordenado com o exército nigeriano” e “nenhum terrorista foi libertado pelas forças francesas”.
+ Presidente do Níger pede ajuda aos EUA após golpe: ‘País está sob ataque’
Desde a tomada de poder, a junta militar revogou uma série de acordos com a França, uma decisão que não é oficialmente reconhecida pelo governo de Emmanuel Macron, já que não teria sido empregada pelo presidente legítimo do país.
Em uma tentativa de amenizar o conflito, os chefes de Estado da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental discutirão nesta quinta-feira, 10, caminhos para restaurar a ordem constitucional no Níger, incluindo medidas mais drásticas, como o emprego da força. Até o momento, propostas de paz elaboradas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e por diplomatas foram recusadas pelo CNSP.