O primeiro julgamento relacionado aos ataques de Paris de 13 de novembro de 2015 começou nesta quarta-feira na França com Jawad Bendaoud no banco dos réus, acusado de ter acobertado dois jihadistas após o massacre que deixou 130 mortos.
Bendaoud era dono do apartamento utilizado por Abdelhamid Abaaud, um jihadista do grupo Estado Islâmico e suposto coordenador dos piores atentados da história recente da França, e seu cúmplice, Chakib Akrouh, para se esconderem após os ataques. Ele foi descoberto cinco dias depois dos atentados, quando a polícia antiterrorista lançou um assalto em um imóvel localizado em Saint-Denis, subúrbio parisiense.
O acusado, agora com 31 anos, contou às câmeras de televisão que transmitiam a operação ao vivo que era o dono do apartamento. “Alguém me pediu que alojasse duas pessoas por três dias e eu fiz”, disse, insistindo que “não sabia que eram terroristas”.
A polícia o prendeu e ele foi indiciado alguns dias depois. A história surreal viralizou na França e Bendaoud foi alvo de escárnio por sua suposta ingenuidade.
Os juízes do tribunal correcional de Paris devem determinar se o réu ajudou os suspeitos a se esconderem ou se realmente não sabia quem eram.
Os juízes de instrução entenderam que Bendaoud sabia que abrigava dois dos responsáveis pelos atentados de Paris, mas desconhecia seus projetos futuros. Abaaoud e seu cúmplice pretendiam cometer um ataque suicida no dia 18 ou 19 de novembro de 2015 em La Défense, bairro financeiro localizado a oeste de Paris.
O julgamento ocorre alguns dias antes de Salah Abdeslam, o único terrorista sobrevivente dos ataques a Paris, comparecer perante os tribunais belgas pela primeira vez.
Desde a sua prisão, Bendaoud afirma sua inocência. “Nunca conversei com um membro de um grupo terrorista na minha vida, não tenho nada a ver com os ataques, nem de perto ou de longe”, escreveu em 2016 aos magistrados, antes de admitir que na noite do ataque usou drogas.
Jawad Bendaoud, entretanto, possui longa ficha criminal. Foi condenado alguns anos antes dos atentados de Paris a oito anos de prisão por uma briga que resultou na morte de um homem — se condenado desta vez, terá uma pena de seis anos de prisão.
Desde a sua detenção, Bendaoud já compareceu três vezes perante os tribunais: por ter posto fogo em sua cela, pelo tráfico de cocaína e por ter ameaçado policiais.
Em 30 de outubro, foi expulso de uma audiência. “Eu sou a vítima!”, protestou furiosamente. “Passei dois anos na prisão sem motivo. Não sabia de nada!”
Bendaoud será julgado com outros dois homens — Mohamed Soumah, um de seus amigos, e Youssef Aïtboulahcen, irmão de Hasna Aïtboulahcen, que morreu no assalto policial de 18 de novembro de 2015 ao imóvel em Saint-Denis juntamente com Abaaoud e Akrouh.
Na noite de 13 de novembro de 2015, três jihadistas fortemente armados espalharam terror pela capital francesa. Bares, restaurantes, uma casa de shows e os arredores de um estádio foram alvos de ataques simultâneos, resultando na morte de 130 pessoas.