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França decide entre a esquerda e a direita

Apesar de forte embate político, qualquer candidato que for eleito estará amarrado às dificuldades financeiras enfrentadas pelo país

Por Gabriela Loureiro e Clara Massote
5 Maio 2012, 11h53

“Uma vez empossados nos cargos, os presidentes de esquerda ou direita não tomam medidas muito diferentes. Na hora do vamos ver, o tronco das decisões é muito parecido, só muda um pouco a coloração da ramagem”

Estevão de Rezende Martins, professor de História da UnB

Em um clima de indecisão e embate político entre esquerda e direita, os eleitores franceses decidem neste domingo quem será o próximo presidente do país. À esquerda, está o favorito François Hollande, defendendo uma reforma tributária que cobraria mais dos mais ricos, além de um aumento vertiginoso de empregos. À direita, apresenta-se o atual presidente, Nicolas Sarkozy, com as suas promessas de proteger a França da crise nos mercados financeiros e do terrorismo.

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Até agora, os franceses se mostraram mais inclinados à esquerda, com a vitória de Hollande no primeiro turno, como uma reação ao gosto amargo dos problemas econômicos experimentado nos últimos anos. Votar no candidato da oposição é uma reação comum dos eleitorados em épocas de crise. E Sarkozy, em sua derradeira chance de virar o jogo, no último debate entre os dois candidatos realizado na última quarta-feira, mostrou-se incapaz de inverter a vantagem de Hollande. O socialista soube rebater as investidas do presidente, e até atacá-lo na mesma moeda. Não houve nocaute, o que favoreceria Hollande, que mantém a soberania na disputa e “marcou pontos” ao tentar se apresentar como estadista.

Ainda assim, Sarkozy saiu com a melhor linha: “O senhor quer menos ricos, eu quero menos pobres”, em resposta à provocação do socialista de que os “privilegiados já foram demasiadamente privilegiados”. De modo geral, cada um tentou defender suas propostas – algumas vezes opostas – com unhas e dentes. Sarkozy, por exemplo, quer reduzir as dívidas públicas e equilibrar as contas francesas até 2016, e Hollande promete equilibrá-las até 2017. Para Sarkozy, um atraso no equilíbrio das contas – tal qual o candidato socialista promete – traria à França um futuro sombrio tal qual os piores cenários desenhados por especialistas para Espanha, Portugal e Itália.

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Diferenças – Sarkozy quer aplicar um mínimo de 15% de taxas sobre as maiores corporações francesas e criar uma nova taxa para os exilados fiscais que buscam refúgio no estrangeiro – e Hollande quer radicalizar. Ele promete cobrar um imposto de 75% sobre os franceses que ganham mais que um milhão de euros por ano e uma taxa de 45% para os que ganham mais que 150.000 euros.

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A imigração é outro tópico de discórdia. Sarkozy quer cortar pela metade o número de imigrantes que entram legalmente no país todo ano e aumentar as deportações dos ilegais. Se Sarkozy for reeleito, as condições para obter cidadania francesa serão mais exigentes, e os estrangeiros sem origem nos países da União Europeia não terão direito a voto.

Hollande é contra essa medida no âmbito das eleições municipais, mas reconhece que o número de imigrantes deve ser limitado, e que a imigração ilegal “deve ser combatida”, apesar de ser contra as deportações. Além disso, enquanto Hollande evoca o direito de “morrer com dignidade”, Sarkozy rejeita a eutanásia. O socialista quer legalizar o casamento gay e a adoção de crianças por parte de casais homossexuais, o que o atual presidente é contra.

Mais do mesmo – Mas, apesar das diferenças, que parecem brutais em época de eleição, assim que conquistarem o Palácio do Eliseu, a ideologia de qualquer um dos candidatos deverá ser relegada a um segundo plano para livrar o país da recessão. “Uma vez empossados nos cargos, os presidentes de esquerda ou direita não tomam medidas muito diferentes. Na hora do vamos ver, o tronco das decisões é muito parecido, só muda um pouco a coloração da ramagem”, disse ao site de VEJA Estevão de Rezende Martins, professor de História da UnB. “O custo financeiro das medidas populistas nos anos 1980 foi tão elevado que Mitterrand teve que tomar medidas tão drásticas como as que estão sendo tomadas agora”, explica o especialista.

Martins se refere às medidas tomadas pelo único presidente socialista eleito na V República francesa, François Mitterrand, que governou por 14 anos. Eleito em 1981, Mitterrand manteve suas promessas mais radicais – criou 250.000 novos cargos governamentais, criou programas assistenciais, diminuiu a jornada de trabalho de 40 para 39 horas semanais e aumentou os salários dos funcionários públicos. Para pagar a conta, o ex-presidente triplicou o déficit orçamentário, e os resultados foram catastróficos – altos índices de inflação, aumento do desemprego e desvalorização do franco (moeda do país na época).

Mais tarde, Mitterrand reconheceu seus erros e deu uma guinada drástica à direita para garantir um segundo mandato e, de quebra, a sobrevivência da economia francesa em tempos difíceis para o orçamento de toda a Europa – assim como agora. E conseguiu os dois, aumentando as taxas sobre os funcionários públicos e aprovando medidas orçamentárias mais rígidas. Hollande, considerado por muitos uma imitação de Mitterrand com menos carisma, parece realmente seguir os mesmos passos de seu ídolo. A esperança é que a réplica seja baseada no Mitterrand de segundo mandato.

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