O Departamento de Justiça dos Estados Unidos e o FBI (a polícia federal americana) admitiram neste fim de semana que uma unidade forense de elite da polícia forneceu resultados errados para análises de fios de cabelo que embasaram praticamente todas as condenações judiciais em um período de mais de duas décadas antes dos anos 2000. Segundo a Associação Nacional de Advogados de Defesa Criminal (Nacdl, na sigla em inglês) e o Projeto Inocência, que estão auxiliando o governo a levantar dados sobre a questão, 26 dos 28 examinadores forenses do laboratório especializado em análises microscópicas de fios de cabelo forneceram pareceres favoráveis aos promotores em 95% dos casos. Até o momento, foram revisados 268 julgamentos, mas o jornal The Washington Post já classificou o episódio de a maior revisão de evidências forenses usadas em tribunais já feita no país.
As organizações informaram que, entre os casos revisados, 32 réus foram condenados à morte. Destes, catorze já foram executados ou morreram na prisão. O Washington Post salientou que os erros do FBI sozinhos não significam que não havia outros indícios que respaldassem as condenações. No entanto, promotores ligados a 46 Estados diferentes foram notificados para determinar se há bases legais para os réus apelarem dos veredictos.
Leia também
Dez coisas que você não sabe sobre Hillary Clinton
Homem é preso após pousar com girocóptero no Capitólio
Por meio de uma nota, o FBI e o Departamento de Justiça disseram que continuarão investindo recursos para averiguar o ocorrido e reafirmaram que estão “comprometidos em assegurar que os condenados afetados serão notificados dos erros do passado e que a Justiça será feita em todas as instâncias. O Departamento e o FBI também estão comprometidos em assegurar a eficácia de análises futuras de cabelo, assim como a aplicação de todas as disciplinas da ciência forense”. A admissão, contudo, mostra a incapacidade das cortes americanas de manter informações científicas fraudulentas longe dos júris. Analistas dizem aguardar uma resposta do sistema jurídico à altura dos testes que podem ter acarretado em convicções equivocadas entre os 2.500 casos que a polícia federal está revisando.
“As análises microscópicas de cabelo usadas pelo FBI durante três décadas para incriminar réus foram um completo desastre”, disse Peter Neufeld, um dos fundadores do o Projeto Inocência. As autoridades federais começaram a investigar os procedimentos em 2012, após o Washington Post divulgar que centenas de pessoas poderiam ter sido condenadas equivocadamente em casos de assassinato, estupro e outros crimes violentos cometidos a partir da década de 1970. A fim de evitar erros, o FBI passou a usar, desde 2000, análises utilizando material genético, e não apenas comparações microscópicas visuais.
(Da redação)