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Exclusivo: filme mostra jovens da Coreia do Norte que desafiaram o regime

Inédito no Brasil, "A Geração Jangmadang" estreia no site de VEJA e narra histórias de resiliência dos millenials diante da opressão brutal de Pyongyang

Por Solly Boussidan Atualizado em 27 jul 2018, 19h25 - Publicado em 27 jul 2018, 17h00

 

© Liberty in North Korea


VEJA traz com exclusividade ao Brasil a estreia do documentário A Geração Jangmadang, produzido e preparado pela ONG Liberty in North Korea (LiNK). O filme acompanha nove jovens norte-coreanos que fugiram do país e se refugiaram na Coreia do Sul. A LiNK é uma ONG especializada no resgate de fugitivos do norte e na sua integração como refugiados nos Estados Unidos e na Coreia do Sul.

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Sokeel Park, diretor da organização em Seul e idealizador do filme, explica parte das motivações por trás do projeto: “se você fala com pessoas  que escaparam da Coreia do Norte, você aprende quão limitada tem sido a nossa visão sobre aquele país”.

De fato, pode parecer que nada mudou na Coreia do Norte ao longo dos anos afora a reviravolta dos últimos meses, de um possível acordo internacional para desarmar a península coreana ao preço da manutenção de Kim no poder. Entretanto uma revolução silenciosa ocorre localmente graças a uma nova geração empreendedora e com sede de liberdade.

A ‘Geração Jangmadang’ não é o típico filme sobre a Coreia do Norte, que trata as pessoas apenas como vítimas. […] Essa é uma história de resiliência, progresso e potencial humano, até mesmo nas circunstâncias mais improváveis.

Sokeel Park
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Segundo Park, foca-se muito na liderança norte-coreana e em suas armas, enquanto “se esquecem algumas verdades humanas muito básicas” e de que as coisas mais interessantes sobre a Coreia do Norte são as próprias pessoas de lá.

Ele faz questão de enfatizar que A Geração Jangmadang “não é o típico filme sobre a Coreia do Norte, que trata as pessoas apenas como vítimas. […] Essa é uma história de resiliência, progresso e potencial humano, até mesmo nas circunstâncias mais improváveis”.

Poucos são os norte-coreanos que não vivem em situação de extrema miséria. Mesmo se o acordo internacional vingar, os cidadãos seguirão sob o jugo opressor do regime mais ensimesmado do planeta, com a população vivendo todos os matizes e peculiaridades de uma realidade distópica.

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Esse é justamente o foco do documentário: a história de millenials, nascidos a partir da década de 80, que precisaram burlar as regras do governo para sobreviver à grande onda de fome da década de 90. À época, cerca de 2 milhões de pessoas morreram famintas, com Pyongyang parando de distribuir as rações diárias e com o pouco de comida ainda disponível sendo usurpado por funcionários estatais.

Em meio ao caos, famílias se mudaram para fazendas, onde podiam comer aquilo que plantavam. Disso surgiu um pequeno escambo: quem tinha milho, fazia e vendia macarrão de milho; quem tinha arroz, fazia e vendia bolos de arroz.

O comércio ilegal acabou por gerar uma rede de mercados informais nas proximidades da fronteira com a China —chamados de jangmadang—, que funcionavam de acordo com as regras capitalistas de compra-e-venda e de oferta-e-demanda apesar do regime socialista.

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Alguns desses jovens aproveitavam a movimentação nos mercados para roubar dinheiro e comida. Outros contrabandeavam de forma precária roupas da China para revendê-las. Um novo mercado se abriu para o comércio de filmes e notícias ocidentais, chinesas, japonesas e sul-coreanas, as quais chegavam a princípio em VHS e, com o tempo, em CDs, em DVDs e finalmente em pendrives USB, mudando a maneira dessa geração ver o mundo e tornando os jovens empreendedores natos.

“Eu tenho aprendido que o povo da Coreia do Norte que conheci, são das pessoas mais inteligentes, trabalhadoras e criativas. O que eles provam é que apesar de todas as dificuldades, eles ainda têm um enorme potencial humano. Principalmente nessa geração jangmadang. Eles têm mais potencial que qualquer outra geração para buscar mudanças e progresso, tanto a partir de dentro quanto desde fora do país”, diz Park

Ele se refere a histórias como a de Kang Min. Separado da mãe aos 9 anos de idade, ele tornou-se mendigo e ladrão de mercado para ter o que comer. Com o tempo, tornou-se vendedor de maçãs em trens nos quais entrava sem pagar passagem e tendo que fugir dos inspetores para não ser preso, passando, mais tarde, a importar pilhas, eletrônicos e roupas através da fronteira com a China, para onde fugiu e ficou escondido até ser resgatado pela LiNK. O jovem planta hoje em dia rosas com as quais prepara infusões de chá para revenda, enquanto sonha em poder voltar à Coreia do Norte e abrir uma agência de turismo com excursões organizadas para os dois lados da península.

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Já Danbi Kim, outra jovem da mesma geração, conta como contrabandeava da China roupas parecidas com aquelas usadas por personagens de novelas sul-coreanas —às quais os jovens assistiam escondidos correndo grande risco— e como suas amigas “altas e bonitas” a ajudavam “desfilar” as vestes pelos mercados, fazendo propaganda dos artigos que tinha para vender no mercado negro sem chamar a atenção das autoridades. A garota relata entre lágrimas ainda como ela e seu irmão mais velho foram presos e torturados pelo regime de Pyongyang pelo “crime” de planejar uma reunião de família na China. Seu irmão continua preso até hoje.

Shimon Huh, também entrevistado no documentário, explica que “o que a geração mais jovem quer é liberdade”.

“Você não tem isso na Coreia do Norte. A geração mais velha nunca viu liberdade. Eles viveram sem saber o que era isso. Mas nós crescemos aprendendo e vendo a liberdade, ao mesmo tempo em que éramos reprimidos pelo governo. Nosso desejo por liberdade é enorme. Liberdade significa ser capaz de trabalhar on você quiser, ou de não trabalhar lá se você não quiser. Poder abrir seu próprio negócio se quiser, viver onde quiser e poder ir aonde quiser”, diz o rapaz.

Kang Min, o órfão-ladrão de mercados-contrabandista-empreendedor, resume com extrema sensibilidade a importância de A Geração Jangmadang: “Acho que a maioria das pessoas já sabe o básico, que a Coreia do Norte tem um sistema diferente, com campos de prisioneiros e fome. Mas os norte-coreanos também são gente. Isso é o básico. Mas talvez seja tão básico que ninguém pensa nisso. Os norte-coreanos são gente com pensamentos próprios, e se você olhar nos olhos deles, eles vão olhar de volta nos seus. E aí você vai sentir algo.”

É justamente nessas histórias humanas, do povo comum subordinado à brutalidade dos generais dos Kim, que está a força, a delicadeza e a importância do filme. Parafraseando Min, VEJA convida você a olhar nos olhos desses norte-coreanos e escutar, em primeira pessoa, as vozes tão raramente ouvidas por todos nós.

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