O período de inscrição de candidaturas nas eleições da Venezuela chegou ao fim à meia-noite de segunda-feira 25, marcado por controvérsias. O sistema digital do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) não habilitou o acesso da candidata Corina Yoris, da Plataforma Unitária Democrática (PUD), que passou a representar a oposição ao regime de Nicolás Maduro após ser indicada pela vencedora das primárias, María Corina Machado, inabilitada a concorrer pelo Supremo. Um total de doze nomes participarão do pleito, e Manuel Rosales, um ex-rival do falecido Hugo Chávez, despontou como o principal adversário do atual chefe de Estado.
Segundo a PUD, Yoris não conseguiu realizar seu cadastro digital no prazo de cinco dias estabelecido pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), primeiro passo para a inclusão do candidato no sistema eleitoral. Assim, a professora universitária de 80 anos, que já era a “segunda opção”, não poderá enfrentar Maduro nas urnas no próximo 28 de julho.
Entre os candidatos que conseguiram fazer a inscrição estão (claro) Maduro, o ex-preso político Daniel Ceballos, o comediante Benjamín Rausseo, o pastor evangélico Javier Bertucci, e Rosales. O presidente do CNE, Elvis Amoroso, confirmou que o partido Um Novo Tempo (UNT), uma das legendas que integra a coalizão PUD, registrou Rosales com sucesso.
+ Como punição a Maduro, EUA voltam a impor sanções contra Venezuela
Quem é Manuel Rosales
O político de 71 anos é governador de Zulia, um estado com grande produção petrolífera na fronteira oeste, com a Colômbia. Nas eleições presidenciais de 2006, ele enfrentou o falecido Hugo Chávez (1999-2013), quando o líder socialista estava no auge da sua popularidade. Ele obteve 4,2 milhões de votos, três milhões a menos do que Chávez.
Rosales é considerado mais pragmático e negociador do que outros líderes da oposição vetados pelo governo. Ou seja, é um candidato “mais viável” para o regime, que está apostando em sua continuidade após um quarto de século no poder, de acordo com analistas. Ao mesmo tempo, é uma figura que divide a oposição, especialmente devido aos seus contatos com Maduro desde que reassumiu o cargo de governador.
+ Governo Maduro bane da Venezuela o escritório de Direitos Humanos da ONU
Denúncias da oposição
Minutos antes do anúncio do registro de Rosales, a Plataforma Unitária Democrática denunciou que “nunca” teve acesso ao sistema de candidaturas na plataforma online do CNE desde que o processo foi aberto, na quinta-feira da semana passada, 21 de março.
“Informamos à opinião pública nacional e ao mundo que temos trabalhado o dia todo, para tentar exercer o nosso direito constitucional de nomear o nosso candidato, mas não foi possível”, disse um dos líderes da coalizão opositora, Omar Barboza, em comunicado em vídeo.
+ Lula questiona oposição da Venezuela usando comparação com Bolsonaro
A PUD desejava registrar a candidatura de Yoris, indicada como substituta de María Corina, que venceu com mais de 90% dos votos as primárias da aliança opositora no ano passado. Ela era favorita nas pesquisas, mas foi inabilitada para exercer cargos públicos por 15 anos.
Em entrevista às Páginas Amarelas de VEJA, Machado havia dito que as eleições na Venezuela não poderiam ser consideradas livres caso ela não fosse permitida a participar, dado que havia sido escolhida como representante da oposição por voto popular. E profetizou: “O regime vai continuar cortando a cabeça de candidato após candidato até encontrar um fraco suficiente que seja capaz de derrotar.”
O ditador
Já Nicolás Maduro esteve pessoalmente no CNE, onde concretizou com facilidade sua candidatura, e em seguida fez um comício em uma praça central de Caracas, capital venezuelana, cercado por integrantes do Grande Polo Patriótico, coalizão criada em 2012 que reúne dez partidos ligados ao chavismo.
+ O Boeing ‘roubado’ no centro da crise entre Venezuela e Argentina
Durante o ato, três pessoas foram presas, acusadas de planejar um atentado contra Maduro. De acordo com integrantes da comitiva presidencial, elas seriam integrantes do partido Vente Venezuela, o mesmo de María Corina.
Os governos de Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Paraguai, Peru e Uruguai expressaram, na tarde de segunda-feira, preocupação com os bloqueios enfrentados pelos candidatos para acessar o sistema eleitoral venezuelano.