Em depoimento no inquérito de impeachment de Donald Trump nesta sexta-feira, 11, a ex-embaixadora dos Estados Unidos em Kiev, na Ucrânia, Marie Yovanovitch disse à Câmara que o presidente americano pressionou o Departamento de Estado para retirá-la do posto, ainda que o órgão acreditasse que ela “não havia feito nada de errado”. De acordo com a diplomata, o mandatário solicitou sua renúncia por meses e que ela foi finalmente descartada por alegações “falsas” feitas por atores questionáveis.
Menos de dois meses após o órgão pedir para que ela estendesse a estada na Ucrânia até 2020, Yovanovitch foi abruptamente informada no fim de abril para que voltasse a Washington “no próximo avião”, como reporta o The New York Times. John Sullivan, vice-secretário de Estado, disse que Trump havia “perdido a confiança” nela. Segundo o jornal, Yovanovich criticou em depoimento os relatórios “fictícios” divulgados pelos aliados de Trump de que ela seria desleal ao presidente e disse que nunca fez nada para sabotar a campanha ou a administração do presidente.
Enquanto corria o depoimento na Câmara, o presidente americano nomeou Sullivan embaixador dos EUA na Rússia.
Durante sua fala, Yovanovitch declarou que “o prejuízo virá quando interesses privados contornarem diplomatas para seu próprio ganho, e não o bem do público”. A veterana — há 33 anos em serviço e por três vezes embaixadora — disse que minar diplomatas leais no Departamento de Estado fortaleceria “maus atores”, que “veriam como é fácil usar ficção e insinuações para manipular o sistema” e servir aos interesses de adversários dos Estados Unidos, incluindo a Rússia. “Hoje, vemos o Departamento de Estado atacado e esburacado de dentro para fora”, disse.
No depoimento, não houve novidade acerca da suposta pressão de Trump sobre o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky para investigar a família Biden, de acordo com o Times.
Segundo o Times, a ex-embaixadora também afirmou não estar envolvida nas discussões acerca da suspensão do auxílio militar americano de 400 milhões de dólares à Ucrânia, que ocorreu em maio, depois de já ter retornado aos Estados Unidos.
Embora ainda seja tecnicamente funcionária do Departamento de Estado, Marie Yovanovitch desafiou a orientação da Casa Branca ao testemunhar no inquérito de impeachment. A Câmara fez uma intimação para que a ex-embaixadora comparecesse, à qual ela acatou, enquanto outras autoridades da administração aderiram aos desejos do presidente Trump de não colaborar.
O posicionamento de Yovanovitch já gerou frutos: Gordon Sondland, embaixador dos EUA na União Europeia, concordou nesta sexta-feira 11 a testemunhar na próxima quinta-feira, 17.
(com AFP)