EUA: queixas contra acusados por crise de água contaminada são retiradas
Escândalo em Flint, no Michigan, afetou 100.000 moradores e causou a morte de 12 pessoas após distribuição de água com chumbo
A Procuradoria de Michigan, nos Estados Unidos, retirou todas as acusações contra os oficiais que ainda eram investigados pelo escândalo envolvendo a contaminação da água da cidade de Flint em 2014. A crise é considerada um dos piores desastres ambientais da história americana e levou à morte de 12 pessoas.
O anúncio sobre a mais recente decisão foi feito nesta quinta-feira 13 e gerou grande surpresa entre os moradores da cidade.
A Procuradoria de Michigan, que nos últimos anos era controlada pelos republicanos do estado, passou a ser composta por uma maioria de democratas, após as eleições de 2018.
Segundo os promotores que foram indicados para o caso após a mudança, os investigadores anteriores não haviam coletado todas as evidências necessárias para um julgamento justo, por isso decidiram retirar as acusações.
Os procuradores, contudo, afirmaram que pretendem desenvolver uma nova grande investigação e asseguraram que o caso não será abandonado.
A crise teve início quando a fonte principal de água foi alterada, e a cidade passou a ser abastecida pelo Rio Flint. A água coletada, contudo, não foi devidamente tratada e saía das torneiras turva e com alta concentração de agentes tóxicos.
Estudos científicos provaram a presença chumbo e a cidade foi atingida por um surto de legionelose, uma doença causada pela ingestão de água contaminada pela bactéria legionella.
Mais de 100.000 pessoas foram atingidas pelo fornecimento de água imprópria. O governador Richard Snyder e seu governo foram acusados de terem ignorado por meses as queixas de moradores.
Após grande repercussão nacional, um estado federal de emergência foi declarado em janeiro de 2016 e os residentes foram instruídos a só usar água engarrafada ou filtrada para beber, cozinhar, limpar e tomar banho.
No começo de 2017, a qualidade da água retornou a níveis aceitáveis, mas ainda há recomendação para o uso de água engarrafada ou filtrada até que todos os canos da cidade tenham sido trocados – o que não é esperado antes de 2020.
Ao todo, 15 autoridades estaduais e municipais, incluindo um membro do gabinete do governador, foram incriminadas por envolvimento no caso. Alguns dos réus enfrentavam acusações de homicídio culposo.
Sete acusados já haviam fechado acordos judiciais com a Promotoria. Os oito que ainda aguardavam julgamento – em sua maioria oficiais de alto escalão do governo – foram beneficiados pela decisão desta quinta.
Entre os réus que foram absolvidos pela decisão está Nick Lyon, o diretor da área de saúde de Michigan, que havia sido acusado de homicídio culposo.
Alguns moradores de Flint ficaram céticos após o anúncio. “Não sabemos se novas acusações serão feitas”, disse LeeAnne Walters, ativista ambiental que ficou conhecida por expor a crise da água, à agência de notícias Associated Press.
“É degradante, como se tudo o que passamos não importasse mais. Nossa cidade foi envenenada, meus filhos têm problemas de saúde e as pessoas responsáveis acabaram com todas as acusações contra eles”, lamentou.