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Enterro de jovens assassinados atrai milhares em Israel

Netanyahu afirma que 'grande abismo moral' separa Israel de seus inimigos. Telefonema de uma das vítimas após o sequestro foi ignorado por policiais

Por Da Redação
1 jul 2014, 18h37

Milhares de israelenses participaram nesta terça-feira do funeral dos três adolescentes sequestrados e assassinados na Cisjordânia, no que se tornou “espontaneamente um dia nacional de luto”, nas palavras do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Emissoras de rádio e televisão interromperam sua programação para a cobertura do enterro. Várias pessoas dividiram táxis e carros e fretaram ônibus para chegar ao cemitério da cidade de Modiin, entre Jerusalém e Tel-Aviv, onde Eyal Yifrach, de 19 anos, Naftali Frenkel e Gilad Shaer, ambos de 16, foram enterrados. Os três desapareceram no dia 12 de junho e seus corpos foram encontrados na segunda, perto de Hebron.

Durante o funeral, o premiê disse que “um grande abismo moral nos separa de nossos inimigos”. “Eles santificam a morte, nós santificamos a vida. Eles santificam a crueldade, e nós a misericórdia e a compaixão. Este é o segredo de nossa força e também a base da nossa união”. Depois que os corpos dos rapazes foram achados, Netanyahu afirmou que o Hamas “pagaria” pela morte dos jovens, que foram sequestrados, segundo a imprensa israelense, enquanto pegavam carona perto de Gush Etzion, um bloco de colônias situado entre Belém e Hebron, em uma zona sob controle civil e militar israelense. As autoridades israelenses afirmam que os três foram mortos por integrantes do grupo fundamentalista islâmico que controla a Faixa de Gaza.

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O Hamas disse que se Israel “levar a guerra a Gaza, abrirá para si mesmo as portas do inferno”. Segundo a rede CNN, uma agência de notícias da Palestina divulgou nesta terça que um desconhecido grupo chamado Ansar as-Dawla al-Islamiya, ou ‘Apoiadores do Estado Islâmico’ teria assumido a responsabilidade pelas mortes e ameaçado destruir a Autoridade Palestina. Para Netanyahu, o incidente é uma consequência da reconciliação do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, com o Hamas. Os dois lados assinaram um acordo em abril que resultou na formação de um novo governo palestino. Abbas condenou o sequestro e disse que ele era uma ameaça aos interesses palestinos, ordenando que suas forças de segurança ajudassem Israel nas buscas aos garotos, medida que foi condenada pelo Hamas.

“Eu sei que vamos colocar as mãos nos assassinos e eles serão punidos”, disse o presidente israelense Shimon Peres durante o funeral. “A todos os que estão felizes com nossa tristeza”, advertiu, “o terror é como um bumerangue”. O ministro da Defesa, Moshe Yaalon, também participou da cerimônia, e disse que os três jovens foram assassinados “por desalmados, somente pelo fato de serem judeus”. “Foram assassinados a sangue frio (…) por aqueles que içam a bandeira de uma guerra de desgaste diária contra nós”, disse, acrescentando que Israel “não descansará até levar os responsáveis à Justiça”. (Continue lendo o texto)

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Bandeira de Israel é vista entre multidão que acompanhou enterro dos três jovens judeus sequestrados e mortos por membros do Hamas
Bandeira de Israel é vista entre multidão que acompanhou enterro dos três jovens judeus sequestrados e mortos por membros do Hamas (VEJA)

Reação – O vice-ministro da Defesa Danny Danon defendeu que o governo israelense envie “uma mensagem clara” sobre o incidente. “Espero que o primeiro-ministro mostre sua liderança e ordene ações duras contra o Hamas”, disse Danon, que apoia a demolição de casas de suspeitos na Cisjordânia. Outros ministros, no entanto, alertaram contra o risco de medidas severas piorarem uma situação já volátil e atraírem condenação internacional se forem consideradas desproporcionais, informou o Wall Street Journal.

Fontes militares informaram que 34 alvos forma atacados em Gaza, a maioria do Hamas, em resposta a 18 mísseis lançados contra Israel nos últimos dias. As casas de dois suspeitos apontados como integrantes do Hamas, Marwan Qawasmeh, de 29 anos, e Amer Abu Aisha, de 33 anos, foram alvo de ações do Exército. Uma delas pegou fogo depois de ser atingida por explosivos, indicando uma retomada da destruição de propriedades de suspeitos de terrorismo, algo que não ocorria desde 2005. Soldados prenderam o pai e irmãos de um dos suspeitos e ordenaram a saída dos moradores antes de detonar os explosivos. Os dois homens não são vistos desde o desaparecimento dos jovens.

O gabinete israelense ainda estuda o que mais pode ser feito em resposta à morte dos jovens. Segundo o jornal Haaretz, Netanyahu e Moshe Yaalon, defendem uma nova expansão de assentamentos na região e desejam construir uma nova colônia em memória dos adolescentes. A medida, no entanto, foi rechaçada por outros membros do gabinete, como a ministra da Justiça, Tzipi Livni, que temem o aumento das tensões e diminuição do apoio internacional.

A ONG Human Rights Watch afirmou nesta terça que a morte dos três jovens judeus “equivaleria a um crime de guerra se cometida por um grupo armado”. “Sequestrar e matar civis é sempre um crime injustificável. É terrível que entre as vítimas, neste caso, estejam crianças”, disse a diretora para o Oriente Médio, Sarah Leah Whitson. A ONG também pediu a Israel que evite uma “punição coletiva” e aja “de acordo com suas obrigações legais internacionais”.

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O presidente Barack Obama divulgou um comunicado. “Como pai, não consigo imaginar a indescritível dor que os pais desses jovens estão sentindo. Os Estados Unidos condenam, nos mais fortes termos, esse ato de terror sem sentido contra jovens inocentes”. O texto afirma ainda que o governo americano ofereceu todo o apoio a Israel e à Autoridade Palestina para encontrar os responsáveis e levá-los à Justiça. “Eu incentivo Israel e a Autoridade Palestina a continuar trabalhando juntos e a conter ações que possam desestabilizar ainda mais a situação”.

Investigações – As autoridades israelenses também começaram a investigar os erros cometidos pela polícia durante o sequestro. Segundo a apuração, os jovens pegaram carona com dois palestinos que fingiram ser colonos judeus. A imprensa israelense informou que um dos judeus conseguiu fazer uma ligação para a polícia e informou que estava sendo sequestrado. Conforme uma gravação divulgada, Eyal Yifrah diz, em voz baixa, “me sequestraram”, enquanto o policial do outro lado da linha repete ‘alô, alô’. A conversa é interrompida imediatamente por um dos sequestradores, que ordena, em um hebraico com sotaque árabe, “baixa a cabeça, baixa a cabeça, baixa a cabeça!”, enquanto ao fundo o policial continua a repetir “alô, alô”. Durante os 15 segundos da gravação, é possível ouvir pelo menos duas rajadas de tiros, embora não se saiba se foram contra as vítimas.

A polícia suspeita que os jovens provavelmente foram assassinados na mesma noite de seu desaparecimento quando os sequestradores consideraram que a ligação os teria delatado. Não se sabe se os palestinos pretendiam mesmo matar os jovens quando pararam o carro ou se só decidiram fazer isso após notarem que um dos jovens havia ligado o celular. Membros do Hamas já sequestraram israelenses para tentar trocá-los por prisioneiros israelenses, mas também mataram outros cidadãos após sequestrá-los. De qualquer forma, a ligação de Eyal foi desconsiderada pela equipe que estava de plantão e tratada como trote. O Exército israelense iniciou só depois que o pai de uma das vítimas denunciou o desaparecimento do filho. Pelo menos cinco policiais, incluindo um comandante, foram afastados.

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