O jornal americano The New York Times, publicou nesta sexta-feira, 31, uma reportagem detalhando mais trechos do manuscrito de memórias do ex-conselheiro de segurança nacional John Bolton, dizendo que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, iniciou sua campanha de pressão contra a Ucrânia dois meses antes de diretamente ameaçar o líder da Ucrânia, Vladimir Zelensky.
O manuscrito de Bolton traz as primeiras evidências de que altos funcionários da Casa Branca estiveram envolvidos no ato de abuso de poder de Trump, a principal denuncia que o presidente enfrenta no julgamento de seu impeachment. A revelação se dá no momento em que os senadores americanos discutem nesta sexta-feira se vão convocar novas testemunhas.
A convocação de Bolton já era muito esperada pelos democratas, apesar de não ter ocorrido durante o processo na Câmara dos Deputados. Os republicanos se recusavam a convocar o ex-conselheiro. O líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, disse não ter votos suficientes para barrar a convocatória de Bolton. Entretanto, não se sabe ainda qual será o desfecho da sessão em curso no plenário. A republicana Lisa Murkowski, que antes apoiava a convocação de Bolton, recuou.
Em maio de 2019, Trump pediu a Bolton, durante uma reunião no Salão Oval na Casa Branca, que o ajudasse a pressionar a Ucrânia a investigar os negócios do ex-vice-presidente Joe Biden e de seu filho Hunter no país. Biden é seu potencial concorrente nas eleições presidenciais de novembro nos Estados Unidos. O telefonema a Zelensky deu-se dois meses depois.
Na mesma reunião no Salão Oval estavam presentes o advogado pessoal de Trump, Rudolph Giuliani, e mais dois funcionários da Casa Branca: o chefe de gabinete, Mick Mulvaney, e Pat Cipollone, conselheiro do presidente. Cipollene lidera a defesa de Trump no julgamento do Senado.
Bolton teria sido encarregado de ligar para Zelensky e organizar um encontro entre o ucraniano e Giuliani para negociar a investigação contra os Biden. Segundo o jornal, o ex-conselheiro nunca fez a ligação.
Entre a publicação da primeira reportagem sobre o tema, no domingo 28, e esta sexta-feira, a Casa Branca tentou proibir que o livro fosse impresso e publicado porque haveria “uma quantidade significativa de informação sigilosa”. Dentre elas, algumas seriam “ultrassecretas”, capazes de “razoavelmente causar danos excepcionalmente graves à segurança pública” dos Estados Unidos.
Mas o advogado de Bolton, Charles Cooper, comunicou que o ex-conselheiro não acredita que em seu manuscrito, que está sob análise da Casa Branca, haja segredos de Estado comprometedores. Cooper pediu à Presidência para especificar quais trechos eram considerados como de informações sigilosas.
O processo de impeachment contra Trump foi instaurado em setembro de 2019 após um delator anônimo ter entregado ao Comitê de Inteligência da Câmara um relatório sobre a conversa do presidente teve com o líder ucraniano no mês de julho.
Trump teria pressionado Zelensky a abrir uma investigação ou apenas realizar um pronunciamento público de que seu país iria investigar os Bidens por corrupção. Se cumprido, o americano liberaria a ajuda militar de 391 milhões de dólares à Ucrânia e organizaria uma visita de Estado de Zelensky à Casa Branca. O presidente americano nega todas as acusações e diz sofrer uma “caça às bruxas”.