Em 2010, quando era arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio prestou depoimento como testemunha em um julgamento sobre crimes cometidos no período da ditadura na Argentina (1976-83). O depoimento durou quase quatro horas e Bergoglio garantiu que se reuniu em duas ocasiões com o ditador Jorge Videla e com Emilio Massera, chefe das Forças Armadas, para interceder pelos dois sacerdotes jesuítas presos.
O jornal argentino Clarín publicou nesta terça-feira trechos do depoimento gravado em vídeo (leia aqui, em espanhol). Interrogado sobre o sequestro dos padres jesuítas Orlando Yorio e Francisco Jalics, presos em 1976 e levados para a Escola Superior de Mecânica da Armada, onde foram torturados. Em um momento do depoimento, Bergoglio relata um diálogo áspero que teve com Massera. “Olhe, Massera, eu quero que apareçam”, disse o então arcebispo.
Com a eleição de Bergoglio como novo papa, surgiram acusações de que teria sido omisso durante a ditadura e não teria feito o suficiente para evitar prisões. Acusações negadas pelo Vaticano, que as considerou “fatos antigos e não provados, com forte carga ideológica”.
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Em outro trecho divulgado pelo jornal, Bergoglio afirma ter pedido a Yorio e Jalics, antes de serem sequestrados, que tomassem cuidado devido às críticas que sacerdotes que faziam trabalhos pastorais nas vilas recebiam de “alguns setores”. Citou o nome do padre Carlos Mugica, morto por um grupo de ultradireita em 1974.
Na semana passada, Jalics, de origem húngara e que foi viver no sul da Alemanha nos anos 1980, declarou-se em paz com o Sumo Pontífice. “Estou em paz com o que aconteceu e considero a história encerrada. Desejo que o papa Francisco receba as bênçãos divinas no exercício de sua missão.”
Na última quinta-feira, o prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel disse que Bergoglio “não tinha vínculo com a ditadura” argentina.
(Com agência France Presse)