Susana Samhan.
Cairo, 24 jan (EFE).- À véspera do primeiro aniversário da Revolução de 25 de Janeiro, o Egito se divide entre aqueles que desejam comemorar as conquistas da mobilização e os que sairão nesta quarta-feira à praça Tahrir para contestar a falta de cumprimento das reivindicações do povo.
Mahmoud Afifi, porta-voz do Movimento de Jovens de 6 de Abril, será um dos muitos egípcios descontentes com a deriva da transição, administrada pela Junta Militar, que nesta quarta-feira irá à emblemática praça do centro do Cairo.
‘Ninguém vai comemorar nada amanhã, todo o povo vai sair para continuar a revolução’, destacou Afifi, membro de um dos grupos instigadores dos protestos que acabaram com 30 anos de regime de Hosni Mubarak em fevereiro passado.
Para esta quarta-feira, há manifestações convocadas que sairão de diversos pontos do país, mas as principais serão realizadas no Cairo e em Alexandria, no litoral mediterrâneo.
‘Os egípcios sairão para continuar com a revolução e garantir suas reivindicações. A principal exigência é a transferência do poder. A Junta Militar tem de transferi-lo imediatamente para poder nos concentrar no futuro’, afirmou Afifi.
Os jovens tinham grandes expectativas de que a revolução mudaria as vidas dos cidadãos, onde, no período de um ano, os militares deixaram de ser vistos por eles como heróis nacionais e passaram a ser os vilões do filme.
A isso se somam a repressão militar aos distúrbios dos últimos meses e os julgamentos militares de réus civis, cujo número disparou após o triunfo da revolução.
A situação econômica também não ajuda muito: a população está empobrecida; o turismo, uma das principais fontes de renda do país, sofreu queda de 30% durante 2011; e os investidores estrangeiros debandaram diante do clima de instabilidade política.
Evidentemente, os dirigentes militares fazem um balanço diferente da transição e consideram que estão servindo à pátria. ‘O povo estará muito feliz (amanhã) com o aniversário, e vai comemorá-lo, pois os militares apoiaram a revolução desde o princípio’, destacou o tenente general reformado Mohamed Kadry Said, analista especializado em assuntos das Forças Armadas.
Como a Junta Militar se declara fiadora da transição, ela não pretende abandonar sua missão até que a tenha cumprido, ou seja, até a realização das eleições para a Shura (câmara alta do Parlamento), a aprovação de uma nova Constituição e a eleição de um novo presidente da República.
O Conselho Supremo da Forças Armadas está a cargo da organização das primeiras eleições legislativas da era pós-Mubarak, que, apesar das irregularidades, foi possível formar um novo Parlamento, com uma maioria escolhida pelo povo.
Se alguém no Egito se beneficiou da vitória da revolução foi a Irmandade Muçulmana, que no último ano deixou de ser uma organização ilegal (condição que mantinha desde 1954) e passou a ser o partido majoritário na Assembleia do Povo (câmara baixa do Parlamento).
Mesmo assim, o aniversário desta quarta-feira ‘não vai ser uma celebração de tudo, porque representa uma continuação da revolução, e vamos exigir tanto os direitos dos mártires como dos manifestantes’, disse à Agência Efe uma porta-voz da Irmandade, Sherin al-Azab, referindo-se à necessidade de julgar os responsáveis pelo massacre de manifestantes nos 18 dias de revolução e nos distúrbios posteriores.
Muitos no Egito pedem a cabeça de Mubarak, que está sendo processado atualmente diante de uma corte penal pelo assassinato de manifestantes, um processo em que a promotoria pediu a pena de morte para o ex-líder. EFE