Egito se prepara para enxurrada de palestinos caso Israel invada Rafah
Embora Cairo se negue em receber refugiados, temendo êxodo imenso, imagens de satélite mostram área desértica sendo preparada para abrigar pessoas
O Egito, que havia deixado clara sua oposição a receber mais refugiados palestinos em meio à guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza, parece ter cedido ao inevitável. Imagens de satélite divulgadas na madrugada desta sexta-feira, 16, mostram que o país parece estar preparando uma área na fronteira com o enclave palestino para receber um possível êxodo de pessoas, diante da iminente invasão israelense a Rafah. Bem na fronteira com o território egípcio, a cidade abriga cerca de 1,5 milhões de pessoas que deixaram suas casas no resto de Gaza, fugindo dos ataques terrestres e bombardeios.
Quatro fontes confirmaram que a operação existe à agência de notícias Reuters. Uma delas disse que o Egito está otimista que as negociações por um cessar-fogo possam evitar tal cenário, mas decidiu estabelecer a área na fronteira como medida “temporária e de precaução”. A construção do campo de refugiados teria começado há três ou quatro dias e pode oferecer abrigo temporário a pessoas que atravessarem a fronteira “até que se chegue a uma resolução”, segundo a autoridade entrevistada pela Reuters.
As outras três fontes de segurança afirmaram à Reuters que o governo egípcio começou a equipar uma área desértica, que foi arada e nivelada, com algumas instalações básicas que poderiam ser usadas para abrigar os palestinos. Todos enfatizaram que esta era uma medida de “contingência”.
Nakba 2.0
O Egito negou ter feito quaisquer preparativos para receber refugiados palestinos. “Isto não tem base na verdade. Nossos irmãos palestinos disseram e o Egito disse que não há preparação para esta possibilidade”, declarou o serviço estatal de informação do país.
Desde o início da guerra em Gaza, o país afirmou repetidamente que o deslocamento da população do enclave para a Península do Sinai seria “inaceitável”.
Cairo justifica que sua oposição ao deslocamento dos habitantes da Faixa de Gaza faz parte de uma rejeição mais ampla, compartilhada por diversas nações árabes, a uma repetição da “Nakba”, ou “catástrofe”, quando cerca de 700 mil palestinos foram forçados a abandonar suas casas na guerra que rodeou a criação de Israel, em 1948.
“Desastre”
O alto comissário das Nações Unidas para os refugiados, Filippo Grandi, disse nesta sexta-feira, 16, que uma transferência de refugiados de Rafah, em Gaza, para o Sinai, no Egito, seria um desastre.
“Seria um desastre para os palestinos, para o Egito e para o futuro da paz”, disse Grandi à Reuters, à margem da Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha. Ele acrescentou que os egípcios deixaram claro ao ACNUR, agência de refugiados das Nações Unidas, que os palestinos deveriam ser assistidos dentro de Gaza.
Israel afirmou na quarta-feira 14 que o seu exército está elaborando um plano para retirar civis de Rafah e levá-los para outras partes da Faixa de Gaza. Mas o chefe de ajuda humanitária das Nações Unidas, Martin Griffiths, afirmou na quinta-feira 15 que a operação era uma “ilusão”. Ele também alertou para a possibilidade dos palestinos invadirem o Egito se Israel lançar uma operação militar em Rafah.