Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

É a direita o dragão da maldade?

Depende de quem melhora mais ou piora menos a vida das pessoas

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 18 out 2019, 14h39 - Publicado em 18 out 2019, 06h00

Com muita paciência, cristã ou não, alguns abnegados enfrentaram a ínte­gra dos sermões do arcebispo Orlando Brandes durante o dia consagrado a Nossa Senhora Aparecida. Algumas conclusões: o bom homem tem obsessão por lepra, doença mencionada quase uma dezena de vezes, e por dragões. Tudo naquela voz típica de bispo de Santa Catarina que levou alguns céticos, não brasileiros, a perguntar se o atual sínodo no Vaticano é sobre a situação nas imensidões do Rio Amazonas ou do Reno. Embora as referências fossem mais à guerra das batinas, entre a maioria progressista e a minoria tradicionalista da Igreja, o arcebispo teve o mérito, ainda que involuntário, de reacender um debate eterno. É mesmo a direita “violenta e injusta”, segundo ele disse? Nesse caso, tem a esquerda a superioridade moral em matéria de compaixão, paz e justiça?

Se existissem respostas finais, prontas e acabadas, fora dos manifestos ideológicos, nem valeria a pena fazer a pergunta. Em nome da simplificação do debate, podemos substituir os termos por capitalismo e socialismo. Antes, e em nome da mais elementar fidelidade histórica, é preciso lembrar que a ultradireita — a de Franco, Mussolini, Hitler e dragões dessa estirpe — não tinha nenhuma simpatia pelo liberalismo, entendido como a conjunção carnal e obrigatória de liberdade econômica com democracia (sim, aquela mais burguesinha do que a música de Seu Jorge).

“Tem a esquerda a superioridade moral em matéria de compaixão, paz e justiça?”

A ideia de que a esquerda ajuda mais os pobres e a direita favorece mais os ricos não só é profundamente entranhada, seja qual for o julgamento da história, como está vivendo um replay. E bem no coração do capitalismo. Se Donald Trump se atolar no pantanal do impeachment e levar junto Joe Biden, por causa de um filho excessivamente favorecido, não será um absurdo conceber que Elizabeth Warren seja eleita presidente dos Estados Unidos. A candidata é simpática às ideias do neomarxista francês Thomas Piketty e propõe imposto progressivo sobre fortunas, mais sufoco para a classe média, desvalorização monetária e suspensão imediata do fracking, a extração de gás de xisto. Se pode fazer isso tudo é outra coisa.

Liz Warren acha, como toda a esquerda, que o grande problema é a desigualdade de renda. Quer reconstruir o capitalismo. Ou refundar ou algu­ma outra palavra que evoque o bolivarianismo chique dos que acreditam que o mundo nunca esteve tão ruim, talvez até nos estertores finais. É possível usar o argumento exatamente oposto: o mundo, em geral sob alguma forma de livre empreendedorismo, nunca esteve tão bom. Nas palavras de Greg Ip, comentarista econômico do Wall Street Journal: “Durante a maior parte da história conhecida, a humanidade viveu à beira da inanição. Até tão recentemente quanto os anos 80, quase metade do mundo vivia em pobreza extrema. Hoje, a projeção da proporção de pessoas em pobreza extrema caiu para 8,6% (em 2018) e, devido à correlação entre crescimento e pobreza, deve ficar mais baixa ainda neste ano”.

Continua após a publicidade

Aos trancos e, para os mais excluídos, barrancos quase intransponíveis, sem compaixão nem pretensão de reformar os humanos ou promover o reino da justiça na terra, a coisa vai indo. Para desgosto de bispos intoxicados pelo pecado da ira.

 

Publicado em VEJA de 23 de outubro de 2019, edição nº 2657

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.