Fawad Peikar.
Cabul, 6 dez (EFE).- Ao menos 62 pessoas morreram e 135 ficaram feridas em dois atentados perpetrados nas cidades de Cabul e Mazar-i-Sharif, que transformaram a festa da Ashura, uma das mais importantes do calendário xiita, em uma das mais sangrentas da última década para os civis no Afeganistão.
Um suicida se misturou entre os milhares de xiitas que por volta do meio-dia (hora local) lotavam a entrada do santuário de Abul Fazl e detonou uma carga explosiva que matou ‘pelo menos 58 pessoas’, explicou à Agência Efe um responsável da polícia da capital, Mohammed Zahir.
O atentado, do qual os talibãs se desvincularam, ocorreu em uma área ao sul de Cabul e também deixou pelo menos 130 fiéis feridos, que foram encaminhados a diversos hospitais da capital afegã.
As imagens das emissoras locais mostravam diversos veículos transportando corpos e feridos em direção aos centros de saúde, onde foram formadas longas filas de familiares que tentavam se informar sobre o estado das vítimas.
Segundo a agência local ‘AIP’, o atentado da capital foi reivindicado por meio de uma ligação a diversos meios de comunicação paquistaneses pelo grupo Lashkar-e-Jhangvi al Alami, ramificação de uma organização sectária paquistanesa.
Através de um comunicado, os talibãs condenaram os ataques desta terça-feira e afirmaram que o movimento ‘não permite atacar afegãos em nome de sua religião, tribo ou procedência’.
Este atentado é um dos mais sangrentos já registrados no Afeganistão e é o que causou mais mortes no ano, apesar do aumento da violência registrado no país em 2011.
Minutos depois do ataque de Cabul, quatro pessoas morreram por conta de uma explosão em Mazar-i-Sharif, capital da província de Balkh, no norte do país.
O porta-voz da polícia local, Sher Mohammed Durani, explicou à Efe que o atentado, realizado a partir de uma bicicleta carregada de explosivos na Praça de Alokozai, também deixou cinco feridos que foram encaminhados a um hospital próximo.
Segundo fontes da polícia citadas pela ‘AIP’, a explosão ocorreu exatamente no instante em que passava pelo local um grupo de fiéis xiitas celebrando a Ashura, que lembra a morte de um neto do profeta Maomé.
Os ataques sectários contra a minoritária comunidade xiita são frequentes em países muçulmanos durante a festa da Ashura, que anualmente reúne milhares de fiéis nos santuários desse braço do islamismo. No entanto, o Afeganistão havia se livrado de ataques desta magnitude até o momento.
‘Desde a etapa do regime talibã, há mais de uma década, não se via um ataque desta escala que tivesse como alvo os xiitas afegãos’, destacou o analista italiano Fabrizio Foschini.
‘Duvido muito que isto tenha sido obra dos talibãs porque isso romperia o discurso nacionalista que querem projetar’, acrescentou o especialista, que vive em Cabul e é membro da Afghanistan Analyst Network.
Os xiitas representam quase 20% da população afegã e se concentram em determinadas províncias, especialmente em Bamiyan, no centro do país.
A Missão das Nações Unidas no Afeganistão qualificou os ataques como ‘brutais’ e ‘completamente inaceitáveis’, e destacou ‘não têm nenhuma justificativa possível’.
Os atentados desta terça ocorrem um dia depois de a comunidade internacional ter se comprometido a apoiar financeiramente o país asiático após a retirada das tropas internacionais em 2014, durante a conferência de Bonn, na Alemanha, sobre o futuro do Afeganistão.
Os países presentes na cúpula prometeram manter o suporte até 2024, mas em troca manifestaram que esperam que o Afeganistão supere seu déficit democrático e respeite os direitos humanos, especialmente os da mulher. EFE