A falta de acordo sobre a participação de Cuba impediu uma declaração final dos líderes da Cúpula das Américas, que termina neste domingo com um pronunciamento que representa apenas o anfitrião, a Colômbia, disse o assessor presidencial para Assuntos Internacionais do Brasil, Marco Aurélio Garcia.
Segundo Marco Aurélio Garcia, os presidentes não assinaram a declaração final devido à decisão de Estados Unidos e Canadá de vetar a proposta de convidar Cuba para as próximas Cúpulas, mas também por não apoiar a reivindicação argentina de soberania sobre as ilhas Malvinas.
“Não houve possibilidade de uma declaração conjunta. Estados Unidos e Canadá não estão de acordo com Cuba e Malvinas”, disse Garcia à rádio colombiana RCN.
“É o que ocorreu em 2009 em Trinidad e Tobago (onde aconteceu a cúpula anterior), com uma declaração assinada apenas pelo presidente da Colômbia, sem a firma dos demais presidentes”, disse um diplomata brasileiro.
O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, confirmou a ausência “de declaração final precisamente porque não há consenso”. “Isto é normal: ninguém pensou que iríamos chegar a um acordo sobre Malvinas ou Cuba; todos sabíamos que não ocorreria”.
Mas Santos destacou que a Cúpula de Cartagena foi útil porque, pela primeira vez, os 31 chefes de Estado e de Governo presentes conversaram sobre todos os temas, sem tabus.
“Finalmente estamos discutindo os temas (…) a questão das drogas era algo que ninguém colocava sobre a mesa. O tema de Cuba e das Malvinas não eram discutidos mas desta vez aconteceu”.
“A maioria dos países disse: Queremos que Cuba seja parte deste processo de cúpulas’, e isto é inédito. Isto deve iniciar uma série de aproximações, de pontes, de processos que nos permitirão, talvez dentro de três anos, ter Cuba na próxima cúpula”, no Panamá.
A presidente argentina, Cristina Kirchner, que partiu de Cartagena nesta manhã, antes do fim da cúpula, lamentou “não haver declaração final diante do veto dos Estados Unidos a um artigo sobre Cuba”.
Os líderes em Cartagena também “concordaram com a necessidade de se analisar os resultados da atual política (contra as drogas) que estamos aplicando nas Américas e a explorar novos enfoques para fortalecer esta luta e torná-la mais efetiva”, destacou Santos.
“É preciso analisar a realidade dos fatos e que políticas poderemos adotar no futuro”, explicou Santos, um dos promotores da discussão sobre a questão das drogas.
“Tivemos esta discussão entre todos os mandatários e concordamos que este debate e análise devem ocorrer porque é um passo importante”.
Segundo o presidente colombiano, a Organização dos Estados Americanos (OEA) ficará encarregada de realizar um amplo estudo neste sentido, incluindo outros organismos internacionais, como a Organização Pan-Americana de Saúde e o bureau das Nações Unidas contra as drogas.
Santos e outros presidentes americanos manifestaram seu interesse em dialogar visando um novo modelo de luta contra as drogas diferente do atual combate frontal e repressivo liderado pelos Estados Unidos há décadas na região.
Antes do início da Cúpula das Américas, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que este debate é “legítimo”, mas destacou que não modificará sua estratégia de interdição das drogas, em referência à proposta de descriminação feita pelo presidente da Guatemala, Otto Pérez.