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Dispersantes químicos são armas poderosas contra o vazamento de petróleo

Por The New York Times
7 Maio 2010, 07h29

Enquanto lutam para conter um vazamento de um poço de petróleo danificado no Golfo do México, funcionários da British Petroleum (BP) e do governo federal dos Estados Unidos estão empreendendo também uma dos maiores e mais agressivas experiências com dispersantes químicos na história do país – e talvez do mundo. Foram lançados 600.000 litros da substância na superfície da água – 23.000 litros foram bombeados diretamente no vazamento, a 1,6 quilômetro de profundidade.

John Curry, diretor de assuntos externos da BP, disse que está animado com os resultados obtidos até o momento. E alguns grupos ambientalistas ficaram muito ansiosos. “Compreendo que é a única coisa que eles podem fazer”, disse Paul Orr, do grupo Lower Mississippi Riverkeeper. “Mas acho que é vital depois disso monitorar o que está acontecendo com a vida aquática.”

Mesmo nos melhores casos, os dispersantes resultam na chamada dupla perda. Os cientistas calculam que, apesar das substâncias tóxicas contidas nos dispersantes, é melhor ter mares com baixas concentrações do material a ter uma presença densa de petróleo na superfície ou na costa, onde há uma probabilidade maior de danos à fauna e à flora. Embora a maioria dos ambientalistas apoie a aplicação de dispersantes como um mal necessário para limitar os danos, alguns criticaram a política da indústria de não revelar a sua fórmula química. O sigilo sobre a mistura exata torna mais difícil avaliar os riscos aos ecossistemas marinhos e determinar quais efeitos colaterais devem ser buscados enquanto a crise se desenvolve.

Além disso, o principal dispersante aplicado até agora, oriundo de uma linha de produtos chamada Corexit, teve sua aprovação rescindida na Grã-Bretanha uma década atrás porque os testes de laboratório indicaram que eles são prejudiciais à vida marinha que habita litorais rochosos, disse Mark Kirby, assessor científico do governo britânico para o teste, uso e aprovação de opções de tratamento para derramamentos de petróleo.

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Kirby, entretanto, acrescentou que o achado pode ter pouca ou nenhuma relevância para a situação atual, onde o produto está sendo aplicado em mar aberto. Embora o Corexit tenha sido reprovado pelo governo britânico para áreas rochosas, foi aprovado em testes de segurança em alto-mar, disse Kirby. Ainda assim, enquanto as moléculas dos 600.000 litros do dispersante unem-se às do óleo proveniente da plataforma de petróleo Deepwater Horizon, que explodiu no dia 20 de abril e se espalhou pelo golfo, alguns grupos estão brigando para obter mais informações sobre a composição do produto. “Nós sobrevoamos a área e vimos a BP borrifando por toda parte”, disse Frederic Hauge, diretor do grupo ambientalista internacional Bellona, baseado em Oslo, na Noruega. “Nós merecemos saber qual é a composição.”

Embora a Nalco Company, que fabrica os dispersantes Corexit, tenha postado online cópias da documentação de segurança para dois de seus produtos na quarta-feira, alguns ingredientes constam como “propriedade exclusiva”. Os documentos de 10 páginas detalham os componentes que devem ser manuseados com grande cuidado em sua forma original, não devem tocar na pele e podem causar danos ao pulmão. Apesar de os documentos declararem que o potencial de dano ambiental seja �moderado�, eles afirmam que, quando usados diretamente no mar nas quantidades recomendadas, o potencial de exposição ambiental é “baixo”.

“É como qualquer outro produto”, disse Charlie Pajor, gerente sênior da companhia sediada em Illinois: “Nós os desenvolvemos e estamos protegendo nosso segredo comercial.” Pajor afirmou que a empresa aumentou a produção durante o fim de semana porque em geral ela estoca apenas pequenas quantidades; os produtos Corexit são normalmente usados numa quantidade muito menor, para tratar de vazamentos menores, acrescentou ele. Pajor disse não se lembrar de um emprego do produto comparável à iniciativa atual.

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Os dispersantes não removem o petróleo do oceano, mas combinam-se a ele e fazem com que as manchas de petróleo desintegrem-se em minúsculas gotículas que afundam e podem ser levadas pela corrente. Eles são especialmente eficazes no combate a derramamentos em águas profundas e distantes do continente, onde a corrente pode espalhar as partículas por uma grande área, diluindo seus efeitos perigosos. “Basicamente estamos pegando o petróleo e o transferindo a outros compartimentos onde ele não causará tanto dano”, disse Kirby, o líder de uma equipe do Cefas Lowestoft Laboratory, na Grã-Bretanha.

A maioria dos dispersantes, disse ele, é formada por uma mistura de quatro a seis substâncias químicas que, combinados, provocam a decomposição do petróleo. Há cerca de 20 agentes de dispersão e, embora em geral tenham tipos similares de componentes, “têm receitas exclusivas como a Coca-Cola”. Quando usados no mar, os produtos criam uma nuvem tóxica nas imediações que pode apresentar risco para a vida marinha da região.

Assim como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, muitos países testam e aprovam os produtos antes do uso, determinando sua toxicidade aos animais marinhos, como o camarão, quando usados em baixas doses. Produtos novos são desenvolvidos constantemente para serem mais eficientes. Mesmo assim, alguns países proíbem seu uso em razão da incerteza em torno dos seus efeitos no longo prazo e muitos necessitam de aprovação prévia das autoridades nacionais antes do emprego.

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