Dez anos de guerra na Síria: luz em meio à desesperança
Mais de 10 milhões de sírios deixaram suas casas e boa parte vive espremida em campos de refugiados, onde soltar balões ajuda a esquecer o frio
Poucas vitórias vêm carregadas de tanto horror e devastação quanto a que mantém Bashar al-Assad na Presidência e no controle da Síria após dez anos de guerra civil, completados na segunda-feira 15. Partindo de manifestações pacíficas por democracia na cidade de Deraa, reprimidas com extrema violência, opositores de Assad desencadearam uma revolta nacional que viria a envolver Rússia, Irã, Turquia, Estados Unidos e, a certa altura, faria o país ser retalhado em pedaços controlados por diversas facções rivais — sendo a pior delas o “califado” instalado pelo Estado Islâmico (outro pesadelo). Assad desmantelou um por um, sistematicamente, recorrendo a todo tipo de brutalidade, inclusive massacres chocantes à base de armas químicas. Com focos de resistência ainda presentes em alguns bolsões, o presidente retomou o domínio de boa parte da Síria, hoje uma nação em ruínas, onde a população faz fila por pão e gasolina e a moeda perdeu 99% de seu valor. Mais cruel, porém, é a catástrofe humanitária. Mais de 10 milhões de sírios deixaram suas casas e boa parte vive espremida em campos de refugiados, onde soltar balões ajuda a esquecer o frio e as más acomodações. Segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos, 400 000 pessoas morreram no conflito, conta que não inclui 200 000 desaparecidos e 90 000 presos em centros de detenção. Segundo o Unicef, 12 000 crianças perderam a vida e uma geração inteira está sendo dizimada. Aferrado ao palácio, Assad prepara a reeleição, em votação prevista para abril ou maio.
Publicado em VEJA de 24 de março de 2021, edição nº 2730