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Democracia à moda africana: candidatos únicos e fraude no voto

Na última eleição do continente, presidente de Ruanda se reelegeu com 93% dos votos

Por Aretha Yarak
12 ago 2010, 10h13

De acordo com especialistas, os sucessivos fracassos democráticos da África se devem, em parte, ao tempo: os países são independentes há poucas décadas

Com a reeleição de Paul Kagame à presidência de Ruanda com 93% dos votos, na última segunda-feira, um dado soa estranho em território democrático. Como pode um político abocanhar quase a totalidade de eleitores, mesmo quando é acusado de corrupção? Escândalos e denúncias costumam dividir a opinião dos eleitores. Mas a democracia vivida na África desde a década de 1960, quando conquistou a independência de suas colônias, não é a mesma vivida pela maioria dos países ocidentais. Na África, vestígios de lutas internas entre tribos ainda duelam com a democracia inspirada nos códigos gregos.

“As instituições na África foram impostas para atender a uma minoria europeia. Como não foi algo construído e enraizado na cultura das tribos que vivem ali, era muito pouco provável que esses países viessem, de fato, a se adaptar a essas instituições”, explica Christian Lohbauer, cientista político e integrante do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da USP. De acordo com especialistas, os sucessivos fracassos democráticos da África se devem, em parte, ao tempo. Independentes há poucas décadas, os países do continente ainda lutam para driblar diferenças internas entre suas milhares de tribos e formatar o melhor caminho político para a nação.

Enquanto isso, muito sangue continua a ser derramado na briga pelo poder das suas 53 nações – ou dos sem-nação, como os Massai, que não pertencem a nenhum país. Há casos ainda de desvio democrático escancarado. Em Burundi, o presidente Pierre Nkurunziza foi o único candidato à presidência em junho deste ano, depois que os partidos de oposição retiraram as candidaturas em um ato de protesto contra a manipulação das eleições. A seguir, alguns casos que exemplificam os buracos nos regimes que se dizem democráticos na África:

Ruanda: Nas eleições de 2010, a segunda desde o genocídio de 1994, o presidente Paul Kagame foi reeleito com 93% dos votos em um pleito marcado por denúncias de fraudes na contagem dos votos. No começo de agosto, 30 empresas de comunicação foram suspensas por não cumprirem as medidas restritivas de não publicar informações contrárias a Kagame – entre elas, os três maiores jornais locais. O presidente reeleito está na lista de “predadores da liberdade de imprensa”, feita pela ONG Repórteres Sem Fronteiras, há quatro anos.

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Zimbábue: “Só Deus me tira do poder.” A declaração lembra o tempo dos poderes reais, quando a coroa era um presente caído dos céus. Mas, na verdade, ela foi dita pelo presidente Robert Mugabe em 2008, uma semana antes do segundo turno das eleições presidenciais. Com 84 anos, Mugabe foi a esperança da nação quando, na década de 1980, ajudou a fundar o país depois da queda da ditadura branca. Se mostrou, no entanto, um ditador. Para se manter no poder, frauda votos, faz acordos com a oposição para não deixar o controle escapar e usa a violência para reprimir movimentos contrários ao seu governo. É assim que ele vence, há quase três décadas, todas as eleições.

Camarões: Aos 77 anos, Paul Biya está à frente da presidência do país há 18. Em 2008, o parlamento aprovou uma polêmica emenda que o proíbe de se reeleger novamente em 2011 – na eleição de 2004, Biya foi acusado de ter fraudado o resultado. Sua vitória no pleito de 1997 já havia sido boicotada pelos três principais partidos do país. Classificado como uma das nações mais corruptas do mundo em 1998 pela Transparência Internacional, o país viveu uma onda de revolta popular em 2001. Líderes separatistas contrários a Biya acabaram presos e três integrantes do movimento foram mortos pelo governo.

Nigéria – Umaru Yar’Adua venceu as eleições em 2007 no plebiscito que foi considerado o pior já realizado desde a independência do país, em 1960. Órgãos internacionais consideraram o resultado das votações como não confiáveis, já que urnas e cédulas eleitorais foram roubadas. Para acalmar os nervos políticos do país, Yar’Adua, que venceu o pleito, tentou incluir partidos da oposição em seu governo. O presidente, que foi taxado de fraudador eleitoral, morreu em março de 2010. O vice Goodluck Jonathan assumiu.

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