Debandada de aliados na Casa Branca isola Trump
Quatro aliados do presidente já deixaram o governo, enquanto outros pensam em destituir o republicano do poder por meio de dispositivo da Constituição
No dia seguinte à invasão ao Capitólio por apoiadores fanáticos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, diversos funcionários do alto escalão da Casa Branca renunciaram em protesto. Alguns outros pensam ainda em renunciar, ou falam informalmente sobre evocar uma emenda à Constituição para retirar Trump do poder.
Mick Mulvaney, ex-chefe de gabinete de Trump, foi um dos primeiros a deixar o governo. Nesta quinta-feira, 7, Mulvaney apresentou sua renúncia do cargo diplomático de enviado especial à Irlanda do Norte em protesto a violência de quarta-feira.
“Não posso ficar aqui depois de ontem. Você não pode olhar para ontem e pensar: quero fazer parte disso de alguma forma”, disse à emissora CNBC.
Na quarta-feira, o Congresso americano se reuniu para certificar os resultados das eleições de novembro, mas após um comício de Trump a apoiadores, onde reiterou acusações infundadas de fraude no pleito, uma turba de apoiadores invadiu o Capitólio para impedir o processo que era presidido por Pence. Ao menos quatro pessoas morreram e 50 foram presas.
Junto a Mulvaney, o vice-conselheiro de Segurança Nacional, Matt Pottinger, também renunciou, mas sem dar mais declarações. Segundo o jornal The Guardian, o conselheiro de Segurança Nacional, Robert O’Brian, e o chefe de gabinete interino, Chris Liddel, também estão considerando deixar seus postos.
Pelo Twitter, O’Brian elogiou a conduta do vice-presidente, Mike Pence, durante a sessão conjunta do Congresso que confirmou a eleição dos democratas Joe Biden e Kamala Harris.
“Ele demonstrou uma coragem hoje do mesmo modo em que demonstrou coragem no Capitólio no 11 de setembro enquanto deputado. Estou orgulhoso de servir ao lado dele”, disse o conselheiro.
Pouco antes da invasão ao Capitólio, Pence já havia respondido às exigências de Trump de derrubar os resultados da eleição presidencial. Apesar de ter sido um dos funcionários mais leais do líder republicano, ele confirmou que não iria impedir a certificação de Biden. Em uma carta aos legisladores, ele declarou não ter “autoridade unilateral para decidir disputas presidenciais” e não poder mudar os resultados da eleição.
Além dos membros do gabinete de Trump, Stephanie Grisham, ex-secretária de Imprensa da Casa Branca e porta-voz da primeira-dama, Melania Trump, também deixou o cargo.
Segundo a emissora americana ABC News, Trump está nesta quinta isolado na Casa Branca, e assessores e funcionários próximos ao presidente tentam evitar contato com o republicano. Os relatos também indicam que Trump está “com raiva” e “negando a realidade”.
Parte dos funcionários da Casa Branca estariam pensando em propor a Pence a destituição do presidente por meio da 25° emenda da Constituição, que prevê a retirada do mandatário do poder caso o gabinete e o vice o considerarem inapto a governar. As conversas sobre evocar o dispositivo ainda são informais, mas, se instaurado, seria algo sem precedentes na história do país.