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Daniel Treisman: “A vitória de Trump seria bem-vinda a ditadores”

Autor de um livro que destrincha os tiranos do século XXI, o cientista político americano comenta o novo fôlego de líderes populistas

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 mar 2024, 08h00

Em Democracia Fake (Editora Vestígio), o senhor e o economista Sergei Guriev defendem uma ideia: as ditaduras baseadas no medo deram lugar àquelas que manipulam a opinião pública. Como as guerras atuais mexem com esse cenário? Elas fornecem cobertura para que os tiranos manipuladores se transformem em ditadores do medo. Essa pode ser inclusive uma das razões para que iniciem os conflitos. As guerras são um sinal de fracasso. Se pudessem continuar a projetar uma imagem de competência, desviando a atenção do povo e marginalizando seus rivais políticos, não precisariam delas. No fim, esses governantes provocam uma crise internacional para justificar a repressão interna. Ou, de forma menos dramática, assustam os cidadãos com avisos sobre inimigos externos. Em Israel, Benjamin Netanyahu espera claramente que a guerra contra o Hamas o mantenha no poder. Ele é um grande sobrevivente. Mas a própria guerra expôs suas fraquezas e minou sua imagem.

As redes sociais são uma arma na mão de tiranias populistas? São uma faca de dois gumes. Por um lado, os novos ditadores usam essas ferramentas com habilidade para aumentar sua popularidade, controlar as narrativas políticas e monitorar os oponentes. Por outro, percebem que as redes sociais podem ser usadas contra eles. As mentiras e a corrupção desses governantes tendem a ser expostas. Na Rússia, o opositor Alexei Navalny publicou vídeos que foram vistos dezenas de milhões de vezes, o que assustou o Kremlin. É decepcionante que as grandes empresas responsáveis por essas tecnologias não tenham feito mais para impedir que líderes autoritários utilizem suas invenções para espalhar mentira e medo.

O que será do futuro da democracia se Trump vencer as eleições nos EUA? Se ele ganhar, tentará transformar uma democracia numa ditadura baseada em manipulação. Duvido que consiga, mas será um processo destrutivo se ele tiver a chance de tentar. Uma vitória de Trump revigoraria outros populistas mundo afora e faria Pequim e Moscou estourarem champanhe. Seria bem-vinda a todos os tipos de ditadores — e nada positiva para a democracia.

O que tem a dizer sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tramar um golpe no Brasil? Golpes não combinam nem com esse novo modelo de ditadura, ancorada na manipulação do público. Se tiver de usar as Forças Armadas, é difícil se afirmar democrata e ser genuinamente popular entre os eleitores. Parece que Bolsonaro esperava empregar sua popularidade para centralizar o poder, como fez Viktor Orbán na Hungria. Mas ele falhou. Perdeu força, e muitos brasileiros passaram a resistir ao seu jeito de governar. Em democracias com tradição, populistas de direita como Bolsonaro e Trump encaram obstáculos. Às vezes vencem, mas nem sempre é assim.

Publicado em VEJA de 22 de março de 2024, edição nº 2885

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