Um relatório divulgado nesta terça-feira, 7, pela Oxfam, organização internacional que promove ações emergenciais, apontou que o orçamento necessário para a reparação de danos relacionados às mudanças climáticas aumentou mais de 800% nas últimas duas décadas.
O documento também alertou que o financiamento humanitário fornecido pelos membros da Organização das Nações Unidas aos países pobres afetados por desastres está muito aquém do suficiente.
Segundo o levantamento, os apelos humanitários da organização internacional cobrem apenas uma pequena fração – cerca de 7,5% ou 474 milhões dos estimados 3,9 bilhões de pessoas – de nações de baixa e média renda prejudicadas pelas mudanças climáticas desde o início deste século.
“As mudanças climáticas estão prejudicando e continuarão prejudicando negros, indígenas e outras comunidades vulneráveis primeiro e pior – interrompendo seus meios de subsistência, cultura, saúde e modo de vida”, disse à CNN o diretor de clima sênior da Oxfam America, Russell Armstrong.
Segundo ele, o impacto de eventos extremos provocados pelas mudanças climáticas exacerba as desigualdades já instaladas na infraestrutura física e social de um país, atingindo principalmente as nações de baixa renda.
De acordo com o relatório, os países com apelos mais recorrentes por ajuda para se recuperar da crise climática incluem Afeganistão, Burkina Faso, Burundi, Chade, República Democrática do Congo, Haiti, Quênia, Níger, Somália, Sudão do Sul e Zimbábue.
Em 2021, o custo econômico de eventos climáticos extremos foi de aproximadamente US$ 329 bilhões em todo o mundo, quase o dobro da ajuda total doada por nações ricas no mesmo ano. A cifra representa um aumento de mais de 800% em relação ao orçamento de projetos humanitários da ONU em 2000.
Desde 2017, apenas 54% dos países desenvolvidos responsáveis pelas crise climática atenderam aos apelos de ajuda humanitária da entidade, deixando um déficit de até US$ 33 bilhões.
Segundo o especialista da Oxfam, como o maior emissor histórico de carbono, “os Estados Unidos têm a obrigação de priorizar a luta contra as mudanças climáticas e ajudar a comunidade global a pagar a conta da destruição causada por elas”.
O alerta segue o relatório publicado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) no mês passado, que apontava um avanço recorde de indicadores-chave das mudanças climáticas. De acordo com a entidade da ONU, as concentrações de gases causadores do efeito estufa, o aumento do nível do mar, aumento do calor e a acidificação dos oceanos atingiram os níveis mais altos já vistos em 2021.
A OMM também estimou que desastres naturais foram responsáveis por cerca de 45% de todas as mortes nos últimos 50 anos, causando também 74% de todas as perdas econômicas globais no período de 1970 a 2019.
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Em resposta aos dados alarmantes, o G7, grupo que reúne as maiores economias do mundo, concordou, no fim de maio, em “descarbonizar predominantemente” os setores de eletricidade até 2035.
Apesar de ser considerada um passo importante nas medidas contra crises climáticas, a decisão deixa margem para que os países desenvolvidos continuem a usar combustíveis fósseis se os seus gases de efeito estufa forem “abatidos”, ou seja, quando forem “capturados” ou “sequestrados”. A tecnologia atual não consegue capturar 100% dos gases de efeito estufa emitidos pela queima de combustíveis fósseis.
“Mesmo que o custo econômico da mudança climática, estimado entre US$ 300 bilhões e US$ 500 bilhões globalmente, seja equivalente aos subsídios governamentais para combustíveis fósseis, os pedidos de soluções não foram ouvidos”, acrescentou o diretor da Oxfam.
Pesquisadores afirmam que a situação do clima sobrecarrega ainda mais o sistema humanitário da ONU, que já lidava com problemas financeiros no enfrentamento de guerras e a escassez de alimentos em todo o mundo.