Maribel Izcue.
Seul, 24 mar (EFE).- As debilidades expostas no ano passado pelo acidente na central de Fukushima pairam sobre a 2ª Cúpula de Segurança Nuclear, que começa em Seul na segunda-feira com o objetivo de reforçar a proteção de materiais e instalações.
A crise que o devastador tsunami de março de 2011 desencadeou na usina japonesa de Fukushima Daiichi fez com que os conceitos tradicionais de segurança nuclear estremecessem e, ao mesmo tempo, abalou a confiança pública nas centrais atômicas.
Por isso, a expectativa é que o encontro de Seul ponha sobre a mesa medidas para tentar restaurar esta confiança e potencializar a sinergia entre a segurança nas usinas de energia atômica e a segurança contra crimes nucleares.
Nos encontros preparatórios da cúpula, que toma o bastão da primeira realizada em Washington em 2010, os representantes dos cerca de 50 países participantes insistiram na necessidade que o documento que saia da reunião demonstre as lições aprendidas com Fukushima.
À margem das consequências humanas e ambientais, o tsunami deixou as instalações de Fukushima Daiichi expostas e isso obrigou a redobrar a vigilância para prevenir ‘atos de terrorismo nuclear’ relacionados com o material radioativo, segundo explicou à Agência Efe o superintendente da polícia de Fukushima, Masami Watanabe.
Atualmente, uma patrulha preparada para operações especiais vigia 24 horas por dia as maltratadas instalações a fim de prevenir uma ameaça deste tipo, surgida em um cenário que, antes da tripla catástrofe que sacudiu o Japão, boa parte da indústria nuclear não considerava verossímil.
Neste contexto, a próxima cúpula servirá também para que os países participantes exponham as novas medidas adotadas individualmente no calor da crise de Fukushima, que evidenciou a necessidade de deixar para trás o secretismo do setor e compartilhar experiência e formação técnica.
Exatamente com este objetivo os Estados Unidos, os países da União Europeia e a Rússia anunciaram recentemente sua decisão de abrir a outros países os centros nos quais treinam os responsáveis em garantir a segurança das instalações nucleares.
A Coreia do Sul também expôs seus planos de criar em 2014 um grande centro de formação para funcionários nucleares de outros países, enquanto o próprio Japão, em plena luta para enfrentar os efeitos da crise, prevê uma série de iniciativas baseadas nos ensinamentos de Fukushima.
Entre elas está o projeto de transformar a província epicentro da crise em um grande centro de segurança nuclear com um instituto internacional, que conte com especialistas em proteção atômica e medicina radiológica e sirva como espaço de formação de profissionais na área.
Apesar da comoção que causou na indústria o desastre em Fukushima, na atualidade a grande maioria dos países retomou seus projetos de construção de reatores nucleares.
Segundo cálculos da indústria atômica, para o ano 2030 a capacidade de geração nuclear global passará dos 400 gigawatts atuais para 600 gigawatts.
Garantir a segurança de materiais perigosos como urânio altamente enriquecido e plutônio, gerados na energia nuclear de uso civil, é o objetivo primordial da Cúpula, que poderia contemplar também pela primeira vez a segurança relativa a outros produtos radiológicos, como os de equipamentos hospitalares.
A expectativa é que durante os dois dias de reuniões haja, além disso, anúncios relativos a programas de reconversão de urânio altamente enriquecido, em linha com o ocorrido em Washington, quando a Ucrânia se comprometeu a desfazer-se de todo seu urânio de alto grau em dois anos.
Naquela primeira reunião de segurança nuclear, os cerca de 50 países presentes mostraram sua intenção de proteger seu material radioativo no prazo de quatro anos, e em Seul espera-se que este compromisso voluntário fique refletido em um plano concreto. EFE