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Covid-19: China e EUA voltam a trocar acusações sobre a origem do vírus

Enquanto americanos acusam Pequim de descuido sanitário e vazamento em laboratório, a China contra-ataca com teorias que podem afetar até o Brasil

Por Sergio Figueiredo Atualizado em 1 fev 2021, 12h42 - Publicado em 5 jan 2021, 14h36

Algumas festas de ano-novo postadas nas redes sociais trouxeram desconforto aos muitos que foram obrigados a passar a noite de réveillon em casa, mas talvez o contraste causador de maior mal-estar tenha sido a contraposição do cenário da Times Square, tradicional local de celebração em Nova York, com a vista de Wuhan, onde foram reportados os casos iniciais de Covid-19. Enquanto o ponto turístico americano passou a noite da virada esvaziado, a cidade chinesa celebrou a passagem com milhares de pessoas aglomeradas. Coincidência ou não, logo depois da divulgação das festivas imagens de Wuhan, autoridades americanas e chinesas começaram a trocar acusações sobre a verdadeira origem do novo coronavírus, assunto ainda em disputa.

Os chineses contestam a tese de que o contágio começou em um mercado de frutos do mar de Huanan, em Wuhan, e rejeitam fortemente a especulação americana, mais especificamente do conselho de segurança nacional da administração Donald Trump, de que o coronavírus escapou de um laboratório na mesma localidade devido a uma falha de segurança. Enquanto especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) aguardam autorização para estudar o caso in loco, autoridades e a mídia estatal chinesas têm levantado outras possíveis causas da crise, alegando, inclusive, que o novo coronavírus talvez já estivesse circulando no mundo bem antes da eclosão da doença em Wuhan.

Nas redes sociais chinesas, surgem cada vez mais comparações da Covid-19 com a gripe espanhola, que matou milhões de pessoas no início do século XX. A gripe de mais de 100 anos foi assim batizada porque a Espanha se tornou um dos principais epicentros — como foi a Itália com a Covid-19 em março e abril do ano passado —, mas hoje se sabe que o vírus Influenza, causador da pandemia de 1918, teve origem em outro local, provavelmente no Kansas, meio-oeste dos Estados Unidos, próximo ou dentro de um campo de treinamento militar, de onde partiriam soldados para a guerra na Europa poucas semanas depois. No caso da Covid-19, uma possibilidade — esta descartada até mesmo pelos epidemiologistas chineses — é de que o vírus teria entrado no país por meio de peças de automóveis importadas para suprir as montadoras de lá.

A teoria mais propagada no momento é de que o coronavírus teria chegado a Wuhan por meio de comida congelada importada de parceiros comerciais, hipótese considerada altamente improvável pela OMS e pelo centro de controle de doenças dos Estados Unidos, mas que tem ganhado cada vez mais força na mídia chinesa e aventada abertamente pelas autoridades, incluindo ministros de Estado, que parecem ter a intenção de proteger seu país de uma possível sanção proposta pelos americanos ou por algum país da Europa.

O fato concreto e objetivo é que não se sabe hoje a origem do coronavírus e que ela não será descoberta se não houver uma investigação internacional, independente, ampla e transparente. Entretanto, até que ponto as maiores potências do mundo estariam dispostas a avançar com essa investigação? A China se comprometeu a colaborar com a equipe da OMS que deve chegar em breve a Wuhan para dar início a estudos mais aprofundados, mas analistas internacionais acreditam que essa colaboração tomará outro rumo se as descobertas apontarem para alguma evidência que comprometa ou simplesmente desagrade o partido comunista chinês.

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Fora do ambiente político, acirrado por disputas comerciais e tecnológicas entre Estados Unidos e China, cientistas ainda seguem a principal hipótese para o surgimento da Covid-19: o novo coronavírus teria vindo de algum animal selvagem (talvez o morcego) e passado por recombinação gênica em outro bicho (possivelmente o pangolim, pequeno mamífero considerado uma iguaria asiática), até infectar o ser humano. Por outro lado, a teoria de que a doença tenha se originado de um vazamento laboratorial não foi descartada. O invólucro proteico do coronavírus é similar ao da variante encontrada em morcegos, cujas amostras o Instituto de Virologia de Wuhan tinha em suas dependências — fato, por sinal, que era de conhecimento da comunidade científica.

A ideia do contágio por meio de comida congelada, vinda de países parceiros onde o vírus teria de fato sofrido a recombinação gênica, parece mais um escudo de proteção erguido pelo alto escalão do governo chinês do que uma teoria a ser perseguida pela ciência. Não se sabe se a troca de acusações entre as duas maiores potências do mundo continuará, tendo em vista a iminente mudança de guarda na presidência dos Estados Unidos e a perspectiva da redução de casos e óbitos com a vacinação em andamento, ainda que claudicante. Espera-se que não sobrem farpas para outras nações exportadoras de alimentos, em especial o Brasil.

 

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