Carmen Postigo.
Roma, 17 jan (EFE).- As águas do Mar Tirreno estão tão movimentadas que o cruzeiro ‘Costa Concordia’, naufragado na sexta-feira, já se deslocou nove centímetros na vertical e um e meio na horizontal, ameaçando deslizar a um abismo de 90 metros no qual ficaria submerso a cerca de 150 metros da costa.
‘O navio fala e isto não é um bom sinal’, dizem os submarinistas à imprensa. Eles penetraram nas entranhas da embarcação em busca de desaparecidos e para maior rapidez nas operações utilizam pequenas cargas de explosivos para abrir o navio por sua quilha.
No ‘Costa Concordia’ continua entrando água pelos 70 metros de abertura de seu casco, que a formação de rochas abriu como uma faca quando ele tentou navegar sobre elas a cerca de 500 metros da ilha de Giglio.
Os prognósticos meteorológicos não encorajam as operações de resgate. Na quinta-feira é prevista uma forte ressaca e há o temor entre os mais pessimistas de que o navio, inclinado 30 graus sobre seu lado direito, possa se afundar completamente, o que acabaria com toda a esperança de encontrar alguém ainda vivo.
‘Em direção ao abismo’, dizem integrantes da unidade de crise do porto da ilha de Giglio. As rochas que mantêm o cruzeiro seguro em três pontos não são suficientes para sua segurança e estabilidade.
Do banco de areia de 37 metros profundidade, o navio poderia deslizar em direção a uma depressão de 90 metros pronta para engolir a embarcação, uma possibilidade que tornaria dificilíssima a extração do combustível, 2.380 toneladas contidas em 17 cisternas na popa.
Os helicópteros sobrevoaram a região e avistaram algumas manchas, que poderiam ser de combustíveis leves e pertencer a lanchas locais, com o que acredita-se que seriam de fácil evaporação, segundo os especialistas.
Trata-se de uma corrida contra o tempo para tirar o combustível, uma operação que poderia durar não menos que duas semanas.
O ministro italiano de Meio ambiente, Corrado Clini, pediu à companhia Costa Cruzeiros que apresente nesta quarta-feira o plano previsto para esvaziar o depósito, e em dez dias, o programa para tirar o navio do ponto no qual se encontra.
A companhia holandesa Smit, que flutuou o submarino nuclear russo ‘Kusk’ (que afundou em agosto de 2000), pretende flutuar e salvar o navio para depois rebocá-lo a um porto ainda não anunciado. Mas, para isso, é primordial tirar o combustível.
As operações a cargo da companhia holandesa começarão na próxima semana, mas tudo ‘depende da estabilidade do navio’, já que dada a densidade do combustível ele deve ser aquecido antes de extraído.
Para poder trabalhar a 40 metros de profundidade, é necessária uma complexa estrutura que inclui uma câmara hiperbárica para a recuperação dos mergulhadores após as imersões, assim como um recinto fechado apoiado sobre uma plataforma, no qual os submarinistas possam permanecer entre 7 e 15 dias, e uma cápsula móvel utilizada como elevador.
Os primeiros geradores de calor e os aparatos necessários para tirar o combustível já chegaram à ilha. Trata-se de evitar um desastre ecológico cuja magnitude seria não apenas para a ilha de Giglio, mas para todo o arquipélago toscano.
Segundo os especialistas, se a recuperação do combustível for realizada sob a água, poderia acontecer um desastre ecológico. A região onde aconteceu a tragédia é muito rica em tesouros paisagísticos e naturais, e até suas águas hospedam um santuário de cetáceos.
Caso o cruzeiro afunde completamente, também formaria parte da paisagem marinha do arquipélago toscano já que passaria a ser o maior dos destroços do Mediterrâneo.
O lugar do naufrágio está protegido desde 1996, por estar dentro do Parque Nacional Arquipélago Toscano. EFE