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Coreia do Norte está enfraquecendo e isso é perigoso

O grande poder militar sob um comando político desequilibrado assusta especialistas, que acreditam que a imprevisibilidade do ditador Kim Jong-un poderia levar a conflitos envolvendo não só Península Coreana, mas toda a região do Pacífico

Por Julia Braun
15 ago 2015, 17h12
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  • Nesta semana, a agência de notícias sul-coreana Yonhap revelou que o ditador Kim Jong-un mandou executar seu vice-primeiro-ministro, Choe Yong-on. A nova execução de um membro do alto escalão do regime norte-coreano seria mais um indício de que Kim estaria enfrentando resistências da cúpula político-militar e estaria tentando se impor pela força. Se a Coreia do Norte estiver enfraquecida politicamente a ponto do comando de Kim ser ameaçado, o povo norte-coreano deve se preocupar, pois o inconsequente ditador já deu mostras que é capaz de tudo para manter-se no poder, inclusive iniciar uma guerra.

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    Apesar dos indícios que apontam para uma desestruturação no núcleo do poder e um enfraquecimento político do atual regime norte-coreano, ainda é evidente a força militar da nação. “O país está desenvolvendo armas de destruição em massa (mísseis, armas nucleares, biológicas e químicas). A Coreia do Norte está mais forte militarmente que antes”, afirma Kongdan Oh Hassig, pesquisadora e especialista nas relações entre as Coreias do Instituto de Defensa e Análise (IDA), um centro americano de estudos geopolíticos. Todo esse fortalecimento militar sob um comando político abalado por desequilíbrios internos tem assustado alguns especialistas, que acreditam que a imprevisibilidade de Kim Jong-un poderia levar a conflitos maiores, envolvendo não só a Península Coreana, mas também a China e toda a região do Oceano Pacífico.

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    De acordo com o ministro das Relações Exteriores sul-coreano, Yun Byung-se, Kim Jong-un já executou 70 oficiais do governo desde que subiu ao poder no fim de 2011. Em comparação, seu pai Kim Jong-iI executou somente dez oficiais em seus quatro primeiros anos à frente do país. Até mesmo para os padrões norte-coreanos, a repressão da elite local – pessoas próximas ao governo ou militares que controlam os poucos centros de produção do país – observada atualmente é gigantesca. Em maio, uma reportagem do The New York Times informou que muitas das mortes – inclusive a de Jang Song-Thaek, tio do ditador – estão ligadas ao controle das exportações mais lucrativas da empobrecida Coréia do Norte: carvão, mariscos e caranguejos.

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    Jang e outros altos funcionários executados detinham poder sobre áreas de pesca lucrativas ou sobre minas de carvão. Além de garantir o controle econômico, as execuções e os métodos brutais empregados, como o uso de armamento pesado para os fuzilamentos, passam uma clara mensagem do ditador a outros funcionários que ousarem desrespeitar as suas ordens. “Quando há discordância, Kim Jong-un considera como um desafio à sua autoridade. Ele executou membros do alto escalão de seu governo para dar o exemplo”, disse o deputado sul-coreano Shin Kyeong-min.

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    Instabilidade – Parte da instabilidade de Kim vem de sua desconfiança com os funcionários mais velhos, que serviram seu avô e seu pai. “Ninguém, nem mesmo os maiores tiranos, tem poder absoluto, a ponto de não depender de certo número de apoiadores”, diz o cientista político americano Bruce Bueno de Mesquita, autor do livro The Dictator’s Handbook (O Manual do Ditador). Por isso, jovem ditador vem tentando enfraquecer a velha guarda – matando seus membros, se necessário – para substitui-la por pessoas da sua confiança. “Gestores mais antigos e generais que servem ao regime de Kim Jong-un desde os tempos de seu avô têm respeito entre seus pares e tendem a criticar o governo e seu chefe. Kim Jong-un não está feliz com isso”, afirma Oh Hassig.

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    No livro Coreia do Norte em Transição: Política, Economia e Sociedade, os autores Scott Snyder e Kyung Abe-Park afirmam que a chamada ‘política de Songun’ – instalada por Kim Jong-iI e que destina a maior parte dos recursos financeiros do país ao Exército – confirma que o comunismo idealizado por Kim Il-Sung (1912-1994), fundador da Coreia do Norte, está perdendo sua influência. O sistema atual é uma modificação da ideologia original imposta pelo ditador patriarca, que pregava que independência, economia nacional desenvolvida e ênfase em autodefesa levariam ao estabelecimento do “verdadeiro socialismo”.

    À medida que os laços ideológicos foram se perdendo, o patrocínio das classes mais altas do país ao regime apareceu como alternativa para a manutenção da estabilidade na Coreia do Norte. O governo costuma conquistar a lealdade das elites locais por meio da compra de bens de luxo e participação em projetos estatais, aponta o jornal Washington Post. “Uma combinação de medo, incentivos econômicos e falta de alternativas permite que Kim mantenha a lealdade das elites por enquanto”, afirma Charles K. Armstrong, professor fundador do departamento de Estudos Coreanos da Universidade de Columbia. No entanto, o aumento recente das execuções e uso da violência parecem indicar que o sistema de patrocínios não está funcionando tão bem.

    Apesar do aumento das execuções e dos sinais de crise, especialistas acreditam que é improvável que o regime entre em colapso e desmorone em um futuro próximo e o mais factível é a possibilidade de Kim manter-se no poder por uso da força – tanto interna quanto externamente. “É muito difícil organizar uma revolta contra a família Kim e mesmo os representantes mais fortes da elite temem o que poderia acontecer com eles caso o regime desmorone e eles caiam sob o controle dos ‘inimigos’ de Seul”, indica Armstrong. O enfraquecimento do governo de Kim Jong-un pode significar o início de um perigoso conflito entre os militares e membros descontentes do governo. Essa luta intestina pelo poder, caso fosse levada à situação extrema de uma guerra civil, seria devastadora para uma população que já sofre com a escassez de alimentos e produtos básicos, com a falta de energia elétrica e auxílio médico adequado.

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    China – As idiossincrasias e a falta de tato diplomático de Kim Jong-un afetaram também as relações do país com a China, o maior aliado da Coreia do Norte. A execução do tio do ditador, Jang Song Thaek, abalou diretamente as relações com os chineses. “A liderança chinesa não gostou da execução e começou a se preocupar com a instabilidade do jovem Kim”, afirma Kongdan Oh Hassig. “A China é de longe o maior parceiro comercial e de auxílio internacional da Coreia do Norte. Se essa fonte de repente diminuir ou desaparecer a economia norte-coreana enfrentaria grandes problemas”, afirma Armstrong.

    A maior seca das últimas décadas, que compromete o plantio de alimentos e a principal fonte de energia local (hídrica), somada aos desentendimentos com o governo chinês, podem levar a uma catástrofe econômica e social, que segundo imagina o professor da Universidade de Columbia, causaria uma grande desestruturação interna, e possível revolta contra Kim Jong-un. Se isso acontecer, a reação do ditador é uma incógnita, mas independente de qual sejam as medidas tomadas, as consequências para o povo norte-coreano são bem previsíveis – eles vão sofrer ainda mais.

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