A Coreia do Norte aceitou nesta quinta-feira a proposta de iniciar negociações com a Coreia do Sul para retomar as atividades do complexo industrial de Kaesong, que foi fechado em abril, em meio à tensão na península resultante do terceiro teste nuclear realizado por Pyongyang. O encontro entre representantes dos dois países está previsto para a manhã de sábado (noite de sexta-feira pelo horário de Brasília), na região fronteiriça de Panmunjon. A proposta havia sido apresentada pelo Sul. Na quarta-feira, Pyongyang restabeleceu a linha de comunicação direta entre os dois lados e anunciou que permitirá a visita de empresários sul-coreanos a Kaesong.
O ministro sul-coreano da Unificação, Ryoo Kihl-Jae, fez um alerta sobre as negociações: “Nossa posição é trabalhar no problema através do diálogo, mas não vamos aceitar demandas pouco razoáveis da Coreia do Norte”. Em junho, uma tentativa de negociação fracassou depois que os dois lados acusaram-se mutuamente de minimizar o encontro enviando funcionários de baixo escalão.
O teste nuclear norte-coreano foi realizado em fevereiro e deu início a um período de tensão elevada, marcado por ameaças constantes de Kim Jong un contra o Sul e os Estados Unidos. Uma das ações do Norte foi fechar o complexo industrial. As operações foram encerradas completamente em maio, quando os últimos trabalhadores sul-coreanos deixaram as fábricas, mas as atividades já vinham sendo reduzidas um mês antes. Os operários tiveram de abandonar o complexo depois que suplementos como alimentos e água foram cortados.
Não foi a primeira vez que o Norte impediu a entrada de trabalhadores do sul no local. Em 2008, o acesso foi restringido depois que um grupo de defensores dos direitos humanos distribuiu folhetos na Coreia do Norte. Em 2009, o local foi bloqueado novamente durante os exercícios militares anuais realizados em parceria pela Coreia do Sul e Estados Unidos.
“A Coreia do Norte está experimentando um nível de isolamento diplomático sem precedentes, diante da pressão da comunidade internacional”, avaliou Kim Tae-woo, ex-presidente do Instituto Coreano para Unificação Nacional. Em entrevista à rede americana CNN, ele acrescentou que aumentar as tensões e depois recuar para o diálogo “é parte da tática usual” de Pyongyang.
Cerca de 2 bilhões de dólares em bens foram produzidos em Kaesong entre 2005 e o final de 2012, segundo o Ministério da Unificação sul-coreano. O salário médio dos trabalhadores do norte é de 134 dólares por mês. Por meio de impostos, o regime do Norte recolhe aproximadamente 45% dos ganhos dos operários.
Prisioneiro – Nesta quarta, a rede CNN divulgou o vídeo de uma entrevista concedida pelo americano Kenneth Bae, condenado a 15 anos de trabalhos forçados por “tentar derrubar o regime” norte-coreano. O vídeo foi feito por um grupo pró-Coreia do Norte baseado em Tóquio. Nas imagens, o americano aparece com a cabeça raspada e mais magro em comparação com fotos divulgadas anteriormente. Bae, que foi considerado culpado em um julgamento realizado no final de abril, faz um pedido para Washington abrir diálogo com Pyongyang e negociar a sua libertação. Ele alega que está com a saúde debilitada desde que foi enviado a uma “prisão especial”, em maio deste ano.
(Com agências Reuters e France-Presse)