Israel atravessa um momento de crise política nesta terça-feira, 28, depois de o ministro da Defesa foi demitido, mas se recusa a renunciar ao cargo. Além disso, críticos do governo temem que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, possa ter feito promessas demais aos seus aliados de extrema direita, em troca de um acordo para reprimir manifestações no país.
Há 12 semanas, israelenses ocupam ruas para protestar contra o plano de Netanyahu para enfraquecer a Suprema Corte. Hospitais, universidades, portos marítimos e o aeroporto internacional foram fechados em apoio a manifestação contra uma reforma judicial, que muitos enxergam como uma incapacitação dos juízes de fiscalizar o governo.
Os protestos atingiram o clímax na noite de domingo 26 para segunda-feira 27, depois que o premiê anunciou a demissão do ministro da Defesa, Yoav Gallant, um crítico das propostas da extrema direita. A motivação da medida foi vista pela população como meramente politico-ideológica, e portanto injustificável.
Em resposta à convulsão social, na noite da segunda-feira, o primeiro-ministro anunciou um adiamento da votação do projeto e afirmou que pretende utilizar o recesso do Knesset, parlamento israelense, para chegar a um acordo com os opositores. No discurso na televisão local do país, Netanyahu afirmou que “não estava disposto a dividir a nação ao meio”.
O comunicado acalmou temporariamente a população. O principal sindicato trabalhista do país cancelou uma greve nacional e as ruas de Israel ficaram mais calmas nesta terça-feira, 28.
Os aliados internacionais de Tel Aviv também ficaram mais aliviados com a decisão do primeiro-ministro. O embaixador dos Estados Unidos em Israel, Tom Nides, saudou a medida para adiar o projeto de lei, dizendo que pôde ter “uma boa noite de sono”.
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Já os assessores do ministro demitido disseram que Gallant permaneceria no cargo. Segundo eles, o político não foi avisado formalmente da destituição, mesmo que a decisão de Netanyahu começasse a valer nesta terça-feira. Porta-vozes do primeiro-ministro e de seu partido, o Likud, não fizeram comentários sobre a suposta continuidade.
A coalizão governista, também nesta terça-feira, apresentou a leitura final de um projeto de lei que daria mais controle da seleção de juízes para Netanyahu. Atualmente, o primeiro-ministro enfrenta acusações de corrupção – que ele nega. Seus críticos o acusam de agir de má fé.
Para deter a crise, Netanyahu tem que equilibrar as demandas dos manifestantes com as de seus parceiros de coalizão de extrema direita, que argumentam que os tribunais têm poder demais. O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, um dos maiores apoiadores da medida, só foi acalmado depois que o primeiro-ministro prometeu a criação de uma “guarda nacional” sob o seu controle.
“O primeiro-ministro subornou a extrema direita com a promessa de criar uma milícia que colocará em perigo os cidadãos israelenses – particularmente os manifestantes anti-golpe – enquanto seu governo sobreviver”, escreveu o jornal israelense Haaretz em um editorial. A publicação ainda pediu para que os manifestantes mantenham a pressão sobre o governo até que ele “desfaça o golpe”.
“A experiência mostra”, disse o editorial, “que Netanyahu recorre à manipulação, mentiras e conspirações, e sua segunda natureza é armar armadilhas que só são descobertas quando já é tarde demais”.