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Conflito federal

Disposto a conseguir dinheiro para erguer um muro na fronteira com o México, Trump briga com a oposição e joga com a paralisação de serviços públicos

Por Fernando Molica
Atualizado em 30 jul 2020, 19h59 - Publicado em 4 jan 2019, 07h00

Quem, nas últimas duas semanas, tentou visitar museus importantes como o de Arte Americana e o Aeroespacial, ambos em Washington, bateu com a cara na porta. As instituições, assim como o Zoológico Nacional e outros dezessete museus e galerias, estão fechadas pela falta de verbas que paralisa cerca de 25% dos serviços do governo americano. Sem dinheiro, não há como pagar aos funcionários. A medida pode afetar até 800 000 deles. Em torno de 350 000 já não comparecem às repartições. Os que vão trabalhar não sabem quando receberão os salários.

O shutdown, como esse tipo de suspensão de atividades é chamado por lá, começou em 22 de dezembro e é fruto da nova queda de braço entre Donald Trump e o Congresso. O presidente quer que os parlamentares incluam no orçamento federal 5,6 bilhões de dólares para a construção de outro pedaço do muro entre os Estados Unidos e o México — uma solene promessa de campanha de Trump. Em dezembro, a Câmara dos Deputados — então controlada pelos republicanos, correligionários de Trump — aprovou a concessão, que passou a ser atacada no Senado pelos oposicionistas democratas. Mesmo com maioria na Casa, os republicanos dependem de votos democratas para que a proposta entre na previsão de gastos do governo.

Ex-dono de cassinos, Trump jogou pesado. Pagou para ver e disse que não assinaria o orçamento caso a verba para o muro não estivesse incluída. Ainda em dezembro, em reunião com representantes do Congresso, admitiu a possibilidade do shutdown e falou em fechar a fronteira com o México. Os democratas não ligaram para a ameaça, até porque tinham uma carta na manga — a partir do terceiro dia de janeiro passariam, por causa da posse dos deputados eleitos em novembro, a ter maioria na Câmara. Em entrevista à CNN, a deputada Debbie Dingell deixou claro que as conversas teriam de ser mais abrangentes, e que se buscaria amenizar medidas contra estrangeiros: “Que tal uma reforma ampla da imigração?”, sugeriu.

Nas primeiras declarações disparadas pelo Twitter em 2019, Trump alternou críticas aos democratas com alguns acenos de paz. Depois de acusar os opositores de não ligarem para problemas como a entrada de drogas e criminosos pela fronteira, mandou um recado a Nancy Pelosi, democrata que assumiria a presidência da Câmara dos Deputados: “Vamos negociar?”, propôs. Ele não esperou pela resposta. Na quarta 2, voltou à carga e chegou a dizer que o México, por causa de acordo comercial com os Estados Unidos e o Canadá, estaria contribuindo com 5,6 bilhões de dólares para a construção do muro — algo tão improvável quanto Jair Bolsonaro conceder um indulto a Lula. Depois, em reunião com integrantes de seu gabinete, acusou a oposição de usar o shutdown como trampolim para as eleições de 2020. Ainda aproveitou para exibir, sobre a mesa, um cartaz inspirado na série Game of Thrones com a frase “Sanções estão chegando” — ele divulgara a imagem no ano passado ao anunciar medidas contra o Irã. Na mesma tarde, Trump voltou a ter outra conversa improdutiva com parlamentares. Na saída da Casa Branca, democratas exibiram um trunfo baseado na maioria que, no dia seguinte, passariam a ter na Câmara — a decisão de apresentar projetos que permitiriam a retomada de quase todas as atividades do governo, uma proposta sedutora até para os republicanos. Haveria dinheiro para quase todos os serviços, mas nada de muro para Trump.

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Enquanto o presidente e os democratas esticam a corda, funcionários do governo ficam sem salário e administradores de órgãos públicos se viram como podem. O aperto também causou redução nos serviços oferecidos por parques nacionais como o Joshua Tree e o Yosemite — a falta de pessoal fez com que a sujeira se acumulasse e tornasse quase impossível a utilização dos banheiros. Para não perder o dinheiro dos turistas, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, passou a bancar o funcionamento da Estátua da Liberdade. Está pagando, por dia, 65 000 dólares para manter o monumento federal aberto. Esse tipo de disputa não é novidade nos Estados Unidos. Em 2013, no governo Barack Obama, republicanos que tentavam barrar a reforma no sistema de saúde fizeram com que serviços federais parassem por dezesseis dias. A julgar pela disposição de Trump, a marca de paralisação deverá ser batida. Segundo ele, o shutdown vai durar “o tempo que for necessário”. As sanções, desta vez, atingem americanos e visitantes.

Publicado em VEJA de 9 de janeiro de 2019, edição nº 2616

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