Como funcionam os motéis e o Airbnb em Havana
Com acesso restrito à internet, cubanos alugam cômodos em suas casas aos turistas que batem em suas portas
Nos bairros de Havana, há várias casas com um símbolo azul na porta que parece uma letra “h” deitada. São quartos e apartamentos para alugar. Por 5 cucs, a moeda cubana que equivale ao dólar, pode-se ficar por três horas. Como não há motéis em Cuba, essa é a opção de muitos cubanos e estrangeiros.
Os quartos também podem ser alugados por dia, ao custo de 25 cucs (cerca de 85 reais). “Com esse dinheiro, consigo pagar a luz, comida e guardar um pouco para viver minha aposentadoria”, diz a cubana Maria Cristina Burgo, que aluga dois quartos de sua casa em Havana Vieja há um ano. Austríacos, israelenses e até russos se hospedaram na sua casa. Do que declara ao governo, Maria paga 10% de imposto.
Em geral, os cubanos alugam os cômodos das próprias casas. Como praticamente não há internet, os clientes são aqueles que vêem o sinal azul e batem à porta.
O site americano Airbnb também opera em Cuba há pouco tempo. Nesses casos, em geral, são estrangeiros que se casaram com locais ou cubanos no exílio que compraram os apartamentos e fizeram reformas. De outros países, eles então colocam esses apartamentos para alugar pela internet. A amortização do investimento geralmente ocorre em um ano.
Em nenhum desses casos é preciso ser da nomenclatura comunista ou próximo do regime para obter as licenças.
A possibilidade de os cubanos alugarem suas casas só passou a existir após as reformas econômicas impulsionadas por Raúl Castro em 2010. “Essa modalidade de negócio é um dos ramos que mais tem interessado os microempresários cubanos e que mais tem dado retorno financeiro sobre o investimento”, diz o historiador cubano Roberto Díaz Vázquez, presidente da Fundação Logos Cuba, que já deu aulas de contabilidade, gerência e finanças para 25 cubanos (há oitenta na lista de espera).
A grande dúvida agora é se essas reformas seguirão adiante ou não. Como o governo teme perder o controle político, as medidas econômicas têm sido muito tímidas e limitadas.
“Quando as pessoas têm dinheiro no bolso, toda a perspectiva delas muda e surgem outras ambições”, diz Vázquez. “O futuro político de Cuba depende de uma classe média fortalecida que não dependa diretamente do governo”, acredita o historiador.