Candidato do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos nas eleições gerais de 3 de novembro, o ex-vice-presidente Joe Biden chega ao primeiro debate televisivo da corrida eleitoral, marcado para a noite desta terça-feira, 29, com nove pontos percentuais nas intenções de voto sobre seu rival, o presidente Donald Trump, segundo a mais recente pesquisa do jornal The New York Times, divulgada no domingo 27.
Essa vantagem, embora significativa, deve ser analisada com cautela. Diferentemente de quase todas as outras democracias do mundo, incluindo o Brasil, a votação popular não decide as eleições presidenciais nos Estados Unidos.
O presidente americano é, na verdade, eleito pelo colégio eleitoral, um colegiado composto atualmente por 538 delegados que votam na Presidência com base nas votações por estado.
Os 538 delegados estão divididos entre todos os 50 estados americanos e o Distrito de Columbia (Washington) de acordo com o número de habitantes. A Califórnia e o Texas, por exemplo, duas das regiões mais populosas do país, são os que mais têm delegados no colégio eleitoral, respectivamente 55 e 38.
Todos os delegados de um determinado estado devem apoiar o candidato mais votado pelo seu respectivo eleitorado, independentemente da margem de diferença. Essa regra é chamada de winner-takes-all (que, em inglês, significa “o vencedor leva tudo”)
Ou seja, se Trump ganhar no Texas por apenas um ponto percentual, ele vai levar todos os 38 delegados texanos. As únicas exceções à regra são Nebraska e Maine, onde há uma certa proporcionalidade na distribuição dos delegados. O candidato é matematicamente eleito presidente dos Estados Unidos se conquistar pelo menos 270 delegados.
O sistema do colégio eleitoral e a regra do winner-takes-all torna extremamente previsível a eleição em determinados locais. Em Nova York, por exemplo, a ampla maioria progressista elege democratas para o comando do país há oito eleições.
O presidente americano é eleito por um colegiado de delegados que votam com base nos resultados das eleições por estado. Um candidato precisa de 270 delegados para ganhar a presidência.
Dessa forma, a eleição americana acaba decidida pela votação em estados-chave, os chamados swing states (estados que variam), nos quais o eleitorado tende mais ao centro, podendo votar em sua maioria tanto no candidato democrata quanto no republicano.
Swing States em 2020
Com base em pesquisas de intenção de voto deste ano e na variação dos resultados das votações estaduais nas últimas cinco eleições presidenciais, o site de estatísticas FiveFortyEight considera 16 estados como battleground states nas eleições de 3 de novembro.
São eles: Arizona, Carolina do Norte, Colorado, Flórida, Geórgia, Iowa, Maine, Michigan, Minnesota, Nevada, New Hampshire, Ohio, Pensilvânia, Texas, Virginia, Wisconsin. Nesses campos de batalha estão em disputa 224 delegados ao todo.
Segundo a estimativa atual do Times, Biden está vencendo Trump por uma vantagem por enquanto segura no Colorado, na Virgínia e em parte do Maine, assim garantindo 24 delegados.
Em contrapartida, o restante dos outros 13 battleground states e de Maine (cerca de 200 delegados) estão ou em empate técnico ou sendo vencidos por um dos candidatos apenas por margem pequena.
A única vitória que Trump mantém no momento em qualquer um desses estados é uma vantagem de três pontos percentuais no Texas (38 delegados). O estado era um forte reduto para os candidatos republicanos, chegando a vantagens na casa dos 20 pontos percentuais.
Considerando todo o mapa eleitoral americano — ou seja, incluindo os estados previsíveis, como o democrata Nova York e o republicano Alabama —, o Times calcula que Biden está garantindo com segurança até o momento 212 delegados, enquanto que Trump teria 125.
Este é o placar que realmente conta por enquanto para a eleição americana, e não os nove pontos percentuais do democrata sobre o republicano no voto popular.
Biden está garantindo com segurança 212 delegados, enquanto que Trump apenas 125, segundo estimativa do New York Times. Cerca de 200 delegados restantes ainda estão sob disputa acirrada.
Covid-19
A situação dos casos de Covid-19 pelos Estados Unidos, e consequentemente a resposta do governo Trump frente à pandemia, é um fator que poderá decidir as votações em estados-chaves, principalmente no Arizona (11 delegados), Flórida (29) e Texas (38).
Em julho, a emissora televisiva CBS News apontou que mais de 60% do eleitorado nesses três estados acreditava que o governo estadual havia liberado as atividades não-essenciais cedo demais. Segundo a pesquisa, culpou a pressão de Trump pela reabertura prematura. Além disso, a CBS News deduziu que o apoio a Biden crescia entre as pessoas mais preocupadas em contrair a doença. Cerca de 70% das pessoas com “muito medo” de pegar Covid-19 pensavam em votar no democrata. Hoje, segundo o Times, o ex-vice-presidente lidera na Flórida por pouco menos de um ponto percentual, e no Arizona por três.