Comissária da ONU vê crimes contra a humanidade na Síria
Inação do Conselho de Segurança encorajou repressão síria, disse Navy Pillay
Em discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, a alta comissária da ONU para os direitos humanos, Navy Pillay, aumentou nesta segunda-feira o tom das críticas à repressão na Síria e disse que provavelmente foram cometidos crimes contra a humanidade com “sistemáticas violações dos direitos humanos” por parte das forças leais ao ditador Bashar Assad.
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Entenda o caso
- • Na onda da Primavera Árabe, que teve início na Tunísia, sírios saíram às ruas em 15 de março para protestar contra o regime de Bashar Assad, no poder há 11 anos.
- • Desde então, os rebeldes sofrem violenta repressão pelas forças de segurança do ditador, que já mataram mais de 5.400 pessoas no país, de acordo com a ONU, que vai investigar denúncias de crimes contra a humanidade no país.
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“A natureza e a escala dos abusos cometidos pelas forças sírias indicam que crimes contra a humanidade provavelmente foram cometidos desde março de 2011”, afirmou Pillay, que ainda criticou o fato de a ONU demorar para interferir no conflito. “O fracasso do Conselho de Segurança em chegar a um acordo de uma ação coletiva forte parece ter encorajado o governo sírio a lançar um amplo ataque em uma tentativa de esmagar a grande força da dissidência”, ela acrescentou.
Desde o início da repressão, em março do ano passado, foram registrados cerca de 6.000 mortos, segundo ativistas sírios. As Nações Unidas reconhecem pelo menos 5.400 óbitos – mas decidiram parar de contar devido à dificuldade para obter informações seguras na Síria.
Homs – Diante da Assembleia Geral lotada, Pillay afirmou que mais de 300 pessoas morreram na cidade de Homs, bastião oposicionista no centro da Síria, durante bombardeios a zonas residenciais iniciados há dez dias. “Segundo informações confiáveis, o Exército sírio bombardeou bairros de Homs densamente povoados durante o que parecem ser ataques indiscriminados contra civis”, disse.
Segundo a oposição a Assad, as forças do regime deixaram ao menos 500 mortos em Homs desde 4 de fevereiro, quando começaram os ataques contra a cidade – no mesmo dia em que Rússia e China vetaram uma segunda resolução do Conselho de Segurança da ONU que exigia a saída de Assad do poder para a formação de um governo interino.
Crise humanitária – A alta comissária da ONU para os direitos humanos advertiu para o perigo de os confrontos se estenderem e a situação no país se agravar ainda mais. “Os riscos de uma crise humanitária aumentam na Síria”, declarou Pillay. Os países árabes e ocidentais realizarão esta semana na ONU uma nova tentativa de condenar a violenta repressão do regime sírio, desta vez na Assembleia Geral, informaram fontes diplomáticas.
Arábia Saudita e Catar prepararam um projeto de resolução que exige que o governo sírio ponha fim aos ataques contra a população. A resolução também apoia o plano da Liga Árabe para assegurar uma transição pacífica para a democracia na Síria. O projeto é muito similar ao texto que foi bloqueado por um duplo veto russo e chinês no Conselho de Segurança em 4 de fevereiro.
(Com agência France-Presse)