Com abstenção recorde, eleição regional é revés para Macron e Le Pen
Desempenho da extrema-direita foi pior do que o previsto, segundo pesquisas de boca de urna, colocando em xeque sua plataforma para a eleição de 2022
Marcada por uma abstenção recorde, de 2 em cada 3 eleitores, as eleições regionais da França, no último domingo, 20, ficaram aquém do esperado para os dois principais interessados no Palácio do Eliseu na disputa de abril do ano que vem: o presidente Emmanuel Macron e Marine Le Pen, da extrema-direita.
Segundo pesquisa do instituto Ipsos, 39% das pessoas que não votaram disseram não ter ido às urnas porque “estas eleições não vão mudar nada no cotidiano”. Outros 23% disseram estar insatisfeitos com os políticos em geral e 22% afirmaram não ter identificação com nenhum dos candidatos.
O desempenho da extrema-direita foi pior do que o previsto, segundo pesquisas de boca de urna, colocando em xeque sua plataforma para a eleição de 2022. Nas últimas semanas, pesquisas de opinião indicavam que o Reunião Nacional, de Le Pen, poderia conquistar seis das 13 regiões do país. Agora, o previsto é que consiga apenas uma, Provença-Alpes-Côte d’Azur, onde fica Marselha.
Os resultados preliminares apontam que Thierry Mariani, candidato de Le Pen, teve apenas 33% dos votos. Um triunfo no segundo turno, marcando a primeira vez que a extrema-direita comandaria uma região francesa, parece pouco provável, no entanto. Tradicionalmente, outros partidos costumam se unir para manter a ultradireita fora do poder.
Nacionalmente, projeções indicam que o partido conservador Os Republicanos, que atualmente comanda sete das 13 regiões, teve o maior número geral de votos no domingo, entre 27% e 29%. Ele foi seguido pela Reunião Nacional, com 18 a 19%, e então pelo Partido Socialista, com 17,6%, e os verdes, com 12,5%. O República em Marcha, de Macron, teve 11,2% dos votos, em quarto lugar.
A eleição regional, que serve para formar as assembleias nas 13 regiões e nos 96 departamentos franceses, agora segue para seu segundo turno em áreas onde nenhum candidato teve mais de 50% na primeira rodada. O segundo turno será disputado no próximo domingo e partidos têm até terça-feira para formar alianças e registrar listas.
Le Pen esperava consolidar sua posição, aproveitando-se de pesquisas recentes que indicam seu favoritismo para vencer o primeiro turno, inclusive contra Macron. Ela é impulsionada por uma base que vê o atual presidente como um líder fraco no que diz respeito à imigração e a segurança nacional, dois temas que serão assuntos-chave em 2022.
Em seis dos dez cenários no primeiro turno, Le Pen aparece em primeiro lugar. Enquanto Macron receberia de 23% a 28% dos votos, ela receberia de 25% a 27%, o que significa que há apenas um cenário em que ele a superaria na primeira etapa da disputa.
Macron, por sua vez, esperava animar eleitores em meio à pandemia do novo coronavírus e tentar reverter sua queda em popularidade. O índice de aprovação do mandatário caiu um ponto para 33% no início de abril, de acordo com uma pesquisa da Elabe, empresa de pesquisa e consultoria. O levantamento mostra que 63% dos entrevistados não confiam na Macron, três pontos percentuais acima da pesquisa anterior.
Além disso, seu partido, o República em Marcha, não existia na última vez que eleitores foram às urnas para escolher líderes regionais, em 2015, e está fundamentalmente atrelado às políticas de Macron. Isso afasta, por exemplo, eleitores rurais que apoiaram movimentos contra uma reforma da Previdência.
Segundo a porta-voz Aurore Berge, o resultado foi um “tapa na cara” para o partido, sem conseguir criar bases locais de apoio.