Clérigo pró-talibã questiona atentado contra Malala
Chefe do maior partido político religioso do Paquistão disse não acreditar que ela tenha sido atingida na cabeça. Jovem ativista se recupera em hospital
O chefe do maior partido político religioso do Paquistão levantou dúvidas sobre o atentado do talibã contra a jovem Malala Yousafzai, de 15 anos, dizendo não acreditar que ela tenha sido atingida na cabeça.
A ativista pelo direito das meninas de estudar foi ferida por tiros no dia 9 de outubro, em Mingora, a principal cidade do Vale de Swat (noroeste do Paquistão) quando voltava da escola. Ela se recupera em um hospital em Birmingham, na Inglaterra. Os médicos dizem que a bala passou pela cabeça e pescoço da jovem antes de atingir o ombro esquerdo.
No entanto, o clérigo pró-talibã Fazlur Rehman, chefe do partido Jamiat Ulema-e-Islam Fazl (JUIF), a maior facção religiosa no Parlamento do Paquistão, rejeitou a informação médica.
“As imagens mostradas nos meios de comunicação mostraram toda a situação como suspeita porque não havia nenhum sinal de lesão depois que o curativo foi removido”, afirmou em um comício no noroeste do Paquistão, neste domingo. “Isso mostra que a bala não a atingiu na cabeça”.
Muitos no Paquistão acreditam que o ataque foi parte de um complô para difamar o talibã e o islã. No país, as teorias da conspiração são comuns e tratam de diversos temas.
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Imagens divulgadas pelo hospital Queen Elizabeth no final de outubro mostraram Malala com a maior parte de sua cabeça coberta com uma toalha azul. Segundo os médicos, a jovem ainda precisa lutar contra uma infecção antes de ser submetida a uma cirurgia reconstrutora.
Desculpas – Em entrevista à rede CNN, a irmã de um dos suspeitos de atirar contra Malala pediu desculpas à vítima. “Por favor, levem esta mensagem a Malala, digam que eu peço desculpas pelo que meu irmão fez a ela”, disse Rehana Haleem sobre seu irmão Attah Ullah Khan, de 23 anos. “Ele trouxe vergonha para a nossa família. Perdemos tudo depois do que ele fez”.
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Um dia depois do ataque, conta Rehana, forças de segurança foram até a casa da família do suspeito, em busca de documentos e fotos. Rehana dis que foi levada, junto com familiares, para uma casa que tinha grades nas portas e nas janelas. Os policiais perguntaram se ela sabia como entrar em contato com o irmão por telepone. A resposta foi negativa.
“O que ele fez foi intolerável”, avaliou Rehana. “Malala é como uma irmã. Queria expressar minha preocupação por ela em nome de toda a minha família. Espero que ela se recupere rápido e retome sua vida normal o mais rápido possível. Espero que ela não considere a mim ou a minha família como inimigos. Eu não considero mais Atta Ullah meu irmão”.
Depois do ataque, a milícia fundamentalista divulgou comunicado dizendo que, se Malala sobrevivesse, eles atacariam novamente. Se a jovem voltar para o Paquistão, o governo afirma que ela terá proteção, assim como sua família.
(Com agência France-Presse)