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Cinco razões para esta ser a mais importante eleição da história dos EUA

A pandemia de Covid-19, a recessão econômica e as ameaças de Trump às instituições democráticas tornam o pleito desta terça marcante

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 3 nov 2020, 08h46

A corrida de 2020 para decidir o novo presidente dos Estados Unidos já é considerada por analistas políticos e veículos da imprensa americana como uma das mais importantes da história do país. No ano em que a pandemia de Covid-19 atingiu o mundo, a escolha por um líder que possa comandar a resposta de saúde e gerenciar um plano de recuperação econômica foi percebida pela população como ainda mais vital. Diante das contestações e ameaças do atual presidente Donald Trump de não aceitar o resultado da votação caso Joe Biden seja anunciado como vencedor, os ânimos ficaram ainda mais acirrados.

Soma-se ainda a atual efervescência social que se espalha pelo território americano, com protestos contra o racismo e a violência social, além da erupção de milícias e grupos extremistas da esquerda e direita. Em um país que se torna mais polarizado a cada ano, esta é a receita perfeita para uma eleição de peso.

“O país não enfrenta ao mesmo tempo uma crise econômica e de saúde pública como esta desde a epidemia de gripe espanhola – que também não veio acompanhada da crise política que as eleições de 2020 representam”, diz o analista político e sociólogo da Universidade Columbia, Robert Y. Shapiro.

Antes de 2020, outras disputas entraram para a história, como a corrida de 1800 entre Thomas Jefferson e Aaron Burr. A votação terminou com um empate, com placar de 73 a 73 no Colégio Eleitoral. Depois de uma semana e 36 votações, Jefferson saiu vitorioso da Câmara dos Representantes por 10 a 4 —e Burr acabaria se tornando o vice-presidente do seu governo.

Cerca de 60 anos depois, em 1860, outra batalha importante foi travada entre Abraham Lincoln e Stephen Douglas. A nação tinha sido dividida ao longo da última década sobre as questões em torno da expansão da escravidão e os direitos dos proprietários de escravos, que no ano seguinte levaram ao início da Guerra de Secessão travado entre os estados do sul e do norte do país. Lincoln foi eleito com grande apoio da região nortenha, mas sua vitória enfureceu os escravagistas do sul que logo pediram sua independência.

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Já em 1932 a disputa entre Franklin D. Roosevelt e o então incumbente Herbert Hoover também entrou para a história. A eleição aconteceu em meio à Grande Depressão e a escolha por um novo presidente era considerada vital para a recuperação americana. Hoover, por não encontrar medidas práticas para conter a crise, não agradou. Isso deu oportunidade para Roosevelt vencer disparado.

Desta vez, porém, existe um consenso entre historiadores, cientistas políticos, diplomatas e funcionários públicos de que a eleição entre o presidente Donald Trump e o democrata Joe Biden possa alcançar, ou até superar, esses altos padrões históricos. As principais razões para isso são as seguintes.

Pandemia de Covid-19

Os Estados Unidos se mantém há meses como o país com mais casos e mortes causadas pelo novo coronavírus. No sábado 31, a nação atingiu o recorde mundial de novos testes positivos em 24 horas, com 100.000 casos.

Nos últimos oito meses, o presidente Donald Trump alternou sua percepção sobre o tema diversas vezes e entrou em disputa com governadores, médicos e outros líderes mundiais ao defender suas ideias sobre a doença e como contê-la. O republicano chegou a menosprezar a gravidade do vírus no início e advogou ainda em maio pelo fim do lockdown em regiões do país em que os casos diários pareciam diminuir.

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Entre tantas idas e vindas, a aprovação da gestão de Trump caiu drasticamente desde o início do ano. Em outubro, o índice chegou a seu recorde de baixa, com apenas 37% dos americanos a favor da condução da reposta à crise.

Diante de tantas dúvidas ainda não respondidas sobre o vírus, um ressurgimento no número de casos no país nas últimas semanas e a perspectiva de resultados promissores das vacinas testadas em todo o mundo, a Covid-19 definitivamente será um dos principais desafios do próximo presidente americano.

“Lidar com a pandemia é de importância central neste momento e o país precisa selecionar um presidente que saiba enfrentar bem os desafios”, diz Robert Shapiro.

Recessão econômica

Em meio à crise sanitária, a economia dos Estados Unidos sofreu uma contração recorde de 32,9% no segundo trimestre de 2020. Foi a maior contração desde a Grande Depressão, no início do século passado. A queda também representa mais do triplo do recuo de 10% registrado no segundo trimestre de 1958 – a maior queda já vista desde então.

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Em um esforço para conter o vírus, a população foi confinada, escolas e negócios não essenciais fecharam as portas. As viagens aéreas foram drasticamente reduzidas. Além da contração do PIB, o resultado foram taxas preocupantes de desemprego.

Em abril, o índice atingiu seu recorde histórico de 14,7%. Os números passaram de mínimos a máximos em menos de um ano, já que o governo Trump gozava até o início da pandemia de resultados positivos na queda do desemprego.

Desde maio, o índice começou a diminuir e atingiu 7,9% ao final de setembro. O PIB também saltou 33,1 no terceiro trimestre, após a queda histórica dos meses anteriores. Porém, ainda que a economia venha se recuperando à medida que as atividades são retomadas, a crise ainda torna o cenário atual bastante complexo e desafiador.

 

Ameaça às instituições democráticas

Há ainda um risco significativo de os Estados Unidos passarem por uma crise de legitimidade após as eleições presidenciais de novembro, o que seria uma ameaça inédita à democracia do país. Trump está constantemente levantando dúvidas sobre a legitimidade das eleições e o voto pelo correio.

O republicano disse ainda que deve entrar na Justiça caso Biden seja declarado vencedor e insinuou que pode não aceitar o resultado do pleito. Os temores de uma crise política motivada pela eleição tornam o momento ainda mais importante para a história americana.

O comportamento recente de Trump e suas ameaças à democracia americana tornaram essa eleições mais importante do que outras”, avalia Robert Shapiro. “Eleições livres e justas e uma transição pacífica para o novo mandato são essenciais neste momento”.

Agitação social

A eleição de Trump em 2016 ampliou ainda mais a polarização política deste país que segue um sistema bipartidário. O cenário abriu as portas para o crescimento de grupos e organizações extremistas que visam defender suas crenças políticas a todo custo.

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Estima-se que haja hoje cerca de 15.000 a 20.000 milicianos ativos em mais de 300 grupos espalhados pelo território americano. Segundo o diretor do FBI, Christopher Wray, as ideologias e organizações antiautoritárias, que pregam contra o governo usando da violência, representam atualmente o maior perigo enfrentado pelo país.

O sentimento de agitação social se tornou ainda mais vívido em maio deste ano, quando milhares de americanos saíram às ruas de todo o país para protestar contra a violência policial e o racismo. As manifestações tiveram como ponto de partida a morte do afro-americano George Floyd durante uma abordagem policial em Minnesota.

Durante os protestos, grupos mais radicais se tornaram violentos e destruíram propriedades e bens públicos. Algumas organizações também entraram em conflito, deixando mortos e feridos.

Desde então, o tema da justiça racial, dos protestos e da violência policial se tornou central para as eleições. A discussão esquentou ainda mais com a recusa de Donald Trump em condenar publicamente os movimentos nacionalistas brancos que atuam ao lado das milícias no país em sua participação no primeiro debate eleitoral.

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Geopolítica mundial

Em 2020, os Estados Unidos ocupam uma lugar muito mais central na política mundial do que durante as eleições de 1800, 1860 ou até mesmo 1932. O país atua em diversas frentes como mediador de conflitos, é um importante ator diplomático e contribui mais do que outras nações para a estabilidade internacional.

Para especialistas, as eleições desta terça também decidirão sobre o papel americano na geopolítica mundial. Com Trump, os Estados Unidos iniciaram um movimento de isolamento que desafiou a ordem vigente desde a Segunda Guerra Mundial e influenciou outras nações, como o Brasil.

O republicano retirou os Estados Unidos de tratados internacionais, como o Acordo Transpacífico, e rompeu a parceria de seu país com a Organização Mundial da Saúde (OMS) durante a pandemia de coronavírus. No Oriente Médio, adota uma postura de amplo apoio a Israel nos conflitos locais e promete retirar as tropas americanas do Iraque e Afeganistão, assim como fez na Síria.

Uma continuidade de seu governo significará um aprofundamento ainda maior dessa tendência. Já a vitória de Joe Biden pode iniciar um lento retorno aos padrões de quatro anos atrás.

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