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‘Chega de Xuxa’: festival global vem ao Brasil para exaltar cultura negra

Em exclusiva a VEJA, Pablo Ganguli, líder da organização Liberatum, conta sobre evento em novembro que trará nomes como Naomi Campbell à Bahia

Por Amanda Péchy
Atualizado em 17 ago 2023, 13h07 - Publicado em 17 ago 2023, 11h52

Celebridades, queira ou não queira, tornaram-se quase onipresentes na vida cotidiana com o advento das redes sociais. Hoje, participam tanto da pauta pública quanto políticos e ativistas.

O Liberatum, uma non-profit internacional fundada em 2001, foi rápido em captar tendência, e decidiu apostar em um festival global com participação de ícones culturais para aumentar a consciência sobre questões importantes que afetam a humanidade, como racismo, machismo e desigualdade, para promover mudanças sociais. Neste ano, o Brasil receberá o evento pela primeira vez, com o inédito tema da contribuição cultural afro-brasileira.

O Liberatum Brasil ocorre de 3 a 5 de novembro na capital da Bahia, Salvador, berço da cultura negra no país. A edição do autodenominado festival de “diplomacia cultural” vai misturar nomes brasileiros e estrangeiros de peso em busca de discutir a desigualdade e inclusão de pessoas negras, que compõem mais de 50% da população do Brasil, mas continuam com menor acesso a emprego, educação, segurança e saneamento, segundo dados do IBGE.

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Em parceria com a prefeitura de Salvador, a edição ocorrerá em seis locais diferentes, incluindo a Doca 1, o Pelourinho e o Centro de Convenções. O evento será aberto ao público mediante reserva de ingressos, mas é totalmente gratuito.

Entre os participantes está a supermodelo e ativista Naomi Campbell. Na luta contra o racismo desde o início da carreira, ela disse em entrevista à agência de notícias Reuters em 2019 que “a diversidade racial na moda melhorou nos últimos anos, mas indústria não deve tratá-la como tendência de passarela”.

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Lee Daniels, diretor e produtor indicado ao Oscar por Preciosa – Uma História de Esperança, a  lendária estrela do rock Debbie Harry, que ganhou fama por ser a vocalista e líder da banda Blondie, e o artista visual Kehinde Wiley, que apareceu na lista de 100 pessoas mais influentes do ano pela Time, compõe o elenco estrelado estrangeiro.

Da parte brasileira, já está confirmado o casal de atores Taís Araújo e Lázaro Ramos, bem como Alcione, uma das maiores cantoras em atividade no país.

O line-up completo e a programação artística serão revelados nos próximos dois meses, mas o evento promete ser um mix de shows de música, painéis de discussão com especialistas, retrospectivas de cinema, desfiles de moda, apresentações de música e dança da comunidade LGBTQIA+ e masterclasses com grandes ícones. Também está nos planos um grande evento de gala ao final do evento, em que serão distribuídos prêmios para alguns dos participantes, bem como para a celebridade homenageada da edição: Alcione.

A Liberatum pretende, com sua presença no Brasil, ser uma plataforma internacional para defender as pautas raciais, bem como um evento para fornecer alguma inspiração ao público. A organização foi fundada por Pablo Ganguli, empresário cultural indiano e queer, aos 17 anos.

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“Queremos inspirar comunidades com foco especial na cultura negra”, disse em entrevista exclusiva a VEJA, acrescentando que a escolha do destino não foi por acaso.

A Bahia é o estado mais negro do Brasil. Cerca de três quartos dos mais de 14 milhões de baianos têm raízes na África, e Salvador tem a maior população afrodescendente do mundo fora do continente africano.

“Quando se trata de Brasil, é sempre sobre Xuxa ou Gisele Bündchen. Queremos dar destaque às vozes negras e sentimos que é o momento certo para fazer isso”, afirmou Ganguli.

O evento é fruto de uma parceria com o produtor local Filipe Ratz, dono da Agência Pira, com sede em São Paulo e Salvador.

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“Robin Hood da cultura”

A cultura corre nas veias de Ganguli. Acredita-se que um de seus bisavós foi secretário particular de Rabindranath Tagore, o poeta bengali que foi o primeiro ganhador do Prêmio Nobel da Ásia. Seu pai era historiador da arte, embora na infância o visitasse apenas uma vez ao mês. Criado pela avó, ele diz nunca ter conhecido sua mãe.

A principal fonte de renda de seus festivais são os patrocínios dos governos locais e conselhos de turismo, marcas parceiras e patronos individuais que, segundo ele, “nunca são fáceis de conseguir e exigem muito trabalho”. Ele não paga os palestrantes de seus festivais: “É como pagar uma taxa para alguém assistir ao Oscar”.

Parece funcionar. Edições anteriores do festival Liberatum Global, cúpulas e outros eventos especiais aconteceram em Hong Kong, Estados Unidos, Reino Unido, Marrocos, Itália, México, Espanha, Índia e França.

De acordo com o fundador da organização, os eventos mais recentes, como no México e Turquia, custaram entre US$ 2 milhões e US$ 4 milhões (de R$ 10 milhões a R$ 20 milhões). Mas suas primeiras tentativas, no início da vida adulta, começaram com US$ 500 a US$ 2 mil, quando contou que vivia à base de feijão enlatado na Heinz em um sofá de amigos.

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“Nunca fiquei com um centavo. Somos como um Robin Hood da cultura, pegamos financiamento daqueles que têm dinheiro e criamos algo aberto para todos”, declarou Ganguli. “Não tenho nada em meu nome. Todos os meus bens cabem em duas malas.”

Também em outras esferas, ele dirigiu vários filmes de elenco estrelado, como o curta-metragem Inspiring Creativity, com James Franco, Tracey Emin e Hans Zimmer. Seu outro curta, Artistry/Technology, reflete sobre a relação entre arte e tecnologia com Frank Gehry, David Hockney e Francis Ford Coppola. Além disso, o empresário fez um documentário de longa-metragem sobre mudança climática e meio ambiente chamado This Climate, que conta com a participação de Sir David Attenborough, Mark Ruffalo e Cher.

Sob a ótica do ambientalismo, o Ganguli tem ainda mais planos para o Brasil. “A Liberatum planeja sediar mais uma edição na Amazônia antes da COP30”, antecipou em entrevista a VEJA.

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