Chefes dos serviços de inteligência da Grã-Bretanha defendem espionagem
Em sessão inédita no Parlamento, diretor do MI6 diz que inimigos devem “estar esfregando as mãos de satisfação” com vazamentos
Três chefes dos serviços de inteligência britânicos foram ouvidos em conjunto nesta quinta-feira numa sessão no Parlamento britânico para explicar a atuação de suas agências em meio aos escândalos de espionagem envolvendo os EUA e a Grã-Bretanha. Na sessão, que foi classificada como “sem precedentes” pela imprensa britânica, eles afirmaram que suas tarefas são “fortalecer a democracia”.
Ao falar sobre os vazamentos provocados por Edward Snowden, o ex-analista da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês), John Sawers, chefe do MI6, o serviço de inteligência internacional da Grã-Bretanha, disse que os inimigos do país estão “esfregando as mãos de contentamento” com a divulgação das informações. “Os vazamentos de Snowden têm sido muito prejudiciais, colocaram as nossas operações em risco. Está claro que nossos adversários estão esfregando as mãos em satisfação.” Ele afirmou ainda que os terroristas estão mudando a forma de se comunicar porque perceberam, após a revelação dos vazamentos, que seus sistemas são frágeis.
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Além de Sawers, a audiência organizada pela Comissão de Inteligência e Segurança do Parlamento reuniu também Andrew Parker, diretor do serviço de inteligência interno MI5, e Iain Lobban, responsável pela agência de inteligência GCHQ (Government Communications Headquarters, central de comunicações governamentais). O depoimento deles, que durou uma hora e meia, foi transmitido pela televisão com dois minutos de atraso, o que poderia eventualmente permitir a edição de trechos que divulgassem dados secretos ou potencialmente prejudiciais para o país. Normalmente, esse tipo de audiência é realizada a portas fechadas.
Andrew Parker defendeu o trabalho das agências afirmando que 34 planos terroristas haviam sido desbaratados por elas desde julho de 2005 (quando aconteceram os atentados de Londres). Ele também minimizou os temores de que o trabalho de espionagem fere a democracia. “Nós acreditamos que é justamente o contrário. Nosso trabalho é responder diretamente às ameaças contra este país, nosso modo de vida às pessoas que vivem aqui”, disse.
Ao ser perguntado sobre o fato de que a Grã-Bretanha espionou outras nações, inclusive aliadas, Parker também afirmou que o trabalho do MI5 está concentrado em terrorismo, e que só 10% dos recursos são gastos com o monitoramento de estados estrangeiros.
“Não passamos o dia escutando chamadas telefônicas ou lendo mensagens eletrônicas da maioria, da ampla maioria. Seria desproporcional, seria ilegal, não fazemos isso”, disse. Por fim o chefe disse que o trabalho do GCHQ está focado no terrorismo, e que a agência não aceitaria espionar pessoas inocentes.